O Mentor

Com Paul Thomas Anderson tudo começa e acaba a cada filme. Nada se transporta de uns para outros. O que é que ainda há de Boogie Nights em O Mentor? Ou mesmo de Haverá Sangue? Nada. Para além de “temas”; mas falamos do gesto da mão, da caligrafia, do traço, daquilo a que no cinema, não lhe podendo chamar nem caligrafia nem traço, chamamos o “estilo”. Que em PT Anderson vem sendo cada vez menos sincero à medida que mais rebuscado parece, e mais postiço é. Mas é do postiço, do inorgânico, que Anderson se transformou num master - o que não sendo necessariamente mau, boa coisa também não é. Agora, o que é verdadeiramente dramático em O Mentor é que é isto - o postiço da mise en scène, a sua propensão para os trejeitos que assinalam (gritam) “vejam, aqui há mise en scène” - que o salva da banalidade absoluta, assim como em Haverá Sangue a grandiloquência se transformava em espectáculo não desejado mas quase fascinante por essa exacta condição.


Agora, francamente, não há saco para seguir a cantilena do great american film, pelo menos sem referir que, no mesmo sentido do equivalente literário da expressão, PTA vem com bastante atraso em relação ao Sr. King Vidor, que foi muito explícito quanto a essa ideia - The Fountainhead, An American Romance - e mais conclusivo na sua exploração. O Mentor, convicta ou inadvertidamente, conserva algo do seu rasto: a personagem de Philip Seymour Hoffman, super-macho americano feito de sedução, hipocrisia, obstinação e eficácia, descende, em ponto pequeno e reiterativo, dos protagonistas desses filmes.

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