Da Áustria com esperança, Ulrich Seidl fecha as portas do paraíso
Cineasta austríaco encerra a trilogia Paradise: Hope, a concurso em Berlim.
Paradise: Hope, a concurso na selecção oficial de Berlim, é o encerramento de uma trilogia que começou em Cannes com Paradise: Love e continuou em Veneza com Paradise: Faith. Três filmes sobre três mulheres, que começaram por ser um único antes de Seidl perceber que alguma coisa não resultava.
Isolou então as histórias em filmes separados, para construir um painel clínico, frígido, metódico – ou seja: austríaco – da busca da felicidade: primeiro a mãe, em Love, como turista sexual no Quénia; depois a sua irmã, em Faith, nos braços da religião.
Em Hope, agora é Melanie que procura um escape para o quotidiano cinzento do campo de exercício e nutrição para adolescentes obesos onde a mãe a deixou antes de ir para o Quénia. Seidl pinta o campo como um internato seco e frio: exercício obrigatório, comida rigorosamente controlada, escapadelas, conversas meio encavacadas sobre sexo, famílias disfuncionais. O escape de Melanie é a sua tentativa de seduzir, qual Lolita, o médico residente do campo. E a provocação brutal que é marca registada de Seidl está aqui inteirinha – só que talvez não como todos o esperam.
Em comum com a mãe e a tia, Melanie está em busca de uma felicidade (impossível?) que passe pela relação com o outro, mas esbarra constantemente no moralismo silencioso de uma sociedade conformada a modelos e fórmulas. As cenas-chave de Paradise: Hope, filmadas desapaixonadamente por um Seidl em absoluto domínio do seu estilo seco e quase pictural, questionam se o que Melanie busca é o conforto passageiro do corpo ou apenas uma figura paternal. Seidl deixa a cada um de nós a resposta; talvez esteja aí a esperança do título.
Trailer: PARADIES: Hoffnung (Ulrich Seidl) from Stadtkino Filmverleih on Vimeo.