Na Grécia, o desespero por comida fixado numa fotografia

Centenas de pessoas amontoadas esperando receber um saco de legumes das mãos de agricultores mostram o grau de necessidade dos gregos.

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Centenas de pessoas acorreram à distribuição gratuita de fruta e legumes LOUISA GOULIAMAKI/AFP
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John Kolesidis/Reuters
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Foi em Atenas, em frente ao Ministério da Agricultura, que agricultores, protestando contra o aumento dos custos de produção, distribuíram fruta e vegetais de graça.

Não foi a primeira acção destas em Atenas. Mas o caos que se seguiu mostrou o ponto a que chegou a carência na Grécia, onde a taxa de desemprego é de 26% (superada na zona euro apenas pelos 26,6% de Espanha) e onde um em cada três gregos vive abaixo do limiar de pobreza, com novos 400 mil pobres entre 2010 e 2011, segundo o Instituto de Estatística da Grécia.

A acção dos agricultores de quarta-feira tinha começado pacífica, mas quando as pessoas se aperceberam que a fruta e vegetais estavam a acabar, lançaram-se para o único camião que ainda tinha alguma coisa. Velhos, mulheres com crianças, todos aos gritos e empurrões para ver quem conseguia chegar primeiro aos mantimentos. A dada altura, um dos agricultores faz gestos como que a enxotar as pessoas, pendido-lhes para se afastarem. Entre a multidão destaca-se uma criança num plano mais alto, está às cavalitas de alguém.

Uma pessoa acabou por ser levada para o hospital com problemas respiratórios.

Estas pessoas tinham uma vida normal
"Estas imagens deixam-me zangado", disse Kostas Barkas, deputado do partido de oposição Syriza. "Zangado por um país que não tem comida para comer, que não tem dinheiro para se manter quente, que não consegue chegar ao fim do mês", disse. Muitas famílias não têm dinheiro para o combustível de aquecimento, essencial no Inverno, muito rigoroso em algumas zonas da Grécia, e têm queimado madeira ou mobília em lareiras ou salamandras, no que provocou um problema de poluição em Atenas, e já foi letal, com a morte de três crianças num incêndio em Mesoropi, perto de Salónica.

O site grego Newsit, que mostrou vídeos da agitação na entrega dos vegetais, comentou: "Estas pessoas não são pedintes. São vítimas de uma crise económica que como um furacão passou e deixou por terra famílias inteiras. São vizinhos que até ontem tinham empregos e uma vida normal. Hoje estas pessoas, engolindo o seu orgulho e dignidade, vão onde quer que seja preciso para encontrar um pouco de comida gratuita, como fizeram aqui".

No final, fica outra imagem: uma mulher com uma pequena criança aproxima-se da banca e inspecciona o que sobrou, restos de tomates rebentados, pequenas cenouras, uma laranja. Pega num tomate, testando a firmeza. Ainda haverá algo para levar?
 
 
 
 
 
 
 
 

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