Aznar processa o El País enquanto meio milhão pedem demissão de Rajoy online

Departamento anticorrupção do Ministério Público espanhol quer ouvir de novo ex-tesoureiro do Partido Popular.

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Rajoy está a ponderar o que vai fazer a seguir PIERRE-PHILIPPE MARCOU/AFP

Disponibilizada na plataforma Change.org e divulgada nas redes sociais desde ontem com etiquetas como #Rajoydimisión ou #quesevayantodos, a petição exige a “demissão da cúpula do PP” e de “todos os que receberam 'dinheiro negro’” e que são identificados na contabilidade secreta do ex-tesoureiro do PP Luis Bárcenas revelada pelo El País.

Bárcenas, citado pela Justiça desde 2009 no âmbito do caso Gürtel, uma ampla rede de corrupção que junta empresas e políticos do PP, vai voltar a ser chamado a depor pelos juízes anticorrupção. Querem ouvi-lo sobre a sua  conta milionária na Suíça, que atingia 20 milhões de euros em Dezembro de 2011, e a amnistia fiscal de 2012 de que alega ter beneficiado para branquear perto de 11 milhões de euros — embora as autoridades fiscais garantam desconhecer que ele o tenha feito.

Isto não quer dizer que seja possível, por ora, relacionar o dinheiro desta conta na Suíça com a chamada “contabilidade B” do PP, revelada pela documentação de Bárcenas publicada pelo El País. Por isso, o procurador-geral espanhol, Eduardo Torres-Dulce, ordenou ao departamento anticorrupção do Ministério Público que investigue a relação entre os pagamentos à cúpula do PP com o caso Gürtel, uma extensa trama de corrupção e enriquecimento ilícito que afectou o PP. A Fiscalía Anticorrupción deverá determinar se as entregas de dinheiro a dirigentes do PP indiciam algum delito imputável aos políticos. 

O El País garante que vários dirigentes destacados do PP confirmaram a contabilidade paralela revelada pelos documentos que publicou. Um deles é o actual presidente do Senado, Pío García Escudero, que logo ontem confirmou ter pedido um empréstimo de cinco milhões de pesetas ao partido para reconstruir a sua casa em Madrid, destruída por um atentado da ETA. Outro é Jaume Matas, ex-ministro do Ambiente de José Maria Aznar.

Dois vereadores do PP pediram entretanto a demissão, manifestando o seu espanto com as notícias vindas a público. Eduardo Junquera, vereador de Gijón, ironizou dizendo que se demitia por "motivos de saúde": "Não por estar doente, mas para não me pôr doente por causa do caso Bárcenas", relata o El País

Mas a reacção oficial do PP, através de Dolores de Cospedal, secretária-geral do partido, e de Soraya Saénz de Santamaría, vice-presidente do Governo, foi negar a veracidade dos documentos do El País e garantir a honestidade de Mariano Rajoy.

"Conduta exemplar"

"Sempre vi em Mariano Rajoy uma conduta exemplar e o exemplo de uma vida correcta e dedicada ao serviço público", garantiu a vice-presidente do Governo, que trabalha com Rajoy há 12 anos, no final da reunião do Conselho de Ministros, confirmando que este sábado o primeiro-ministro dará explicações públicas sobre o caso aos espanhóis.

De acordo com o El País, Mariano Rajoy e os seus próximos estão a estudar outras formas de contestar a intensa onda de indignação causada por estas revelações. Uma possibilidade é publicar as declarações de IRS de Rajoy e dos restantes membros da direcção do PP que surgem nos papéis do ex-tesoureiro do PP Luís Bárcenas – porque não basta negar, há que oferecer provas, defendem alguns dirigentes.

 
O Partido Popular tem tentando passar a ideia de que existiria um sistema para pagar despesas de representação aos líderes do partido, mas que seria declarado às finanças, diz o El País. Alguns dirigentes, como o presidente do partido e o secretário-geral, receberiam sempre estes extras. 

Os documentos revelados pelo El País, escritos pela mão de Barcenas, seriam o assentamento do dinheiro recebido de vários empresários e empresas espanholas que depois era canalizado para diversos dirigentes importantes do PP. Rajoy recebeu 25.200 euros anuais durante 11 anos, segundo estes documentos, mas não era o único a beneficiar deste esquema. Por exemplo, Dolores de Cospedal (actual secretária-geral do PP), Rodrigo Rato (foi vice-secretário-geral), Javier Arenas (ex-presidente do PP da Andaluzia, ex-secretário-geral do PP e hoje vice-secretário para a Política Autonómica), ou Ana Palacio (ex-ministra de Exteriores).

Ironicamente, teria sido Rajoy e a sua secretária-geral, Dolores de Cospedal, que acabaram com este sistema, em 2009, pouco depois de assumirem o poder no partido, diz ainda o El País, citando fontes próximas dos últimos tesoureiros do PP.

Aznar defende a honra

O esquema teria sido concebido pelo ex-primeiro-ministro José Maria Aznar, porque não queria cobrar ao partido um ordenado maior, dizia a 19 de Janeiro o El País. Esta sexta-feira, os advogados de Aznar avançaram com uma acção judicial contra o jornal por “violação do direito à honra”, considerando que lhe atribuiu “alegadas condutas e decisões ilegais na gestão económica do PP”.

Mas as doações feitas ao partido vão contra o estabelecido na Lei de Financiamento dos Partidos Políticos vigente entre 1997 e 2007, diz o El País, porque são superiores ao montante máximo permitido por pessoa singular ou jurídica (10 milhões de pesetas ou 60.101 euros por ano). Há donativos de 250 mil euros de uma vez, e de 400 mil euros de uma única pessoa, num ano. Outra ilegalidade é os donativos virem de empresas que prestam serviços ou fazem obras para a administração pública — e a maior parte provém de empresas de construção civil.

Curiosamente, avança o El País, entre os doadores surge também o nome de um ex-presidente do Tribunal de Contas, Ubaldo Nieto. Esta é a instituição que verifica a contabilidade dos partidos políticos.


 
 


 
 
 
 
 

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