Esta semana a modelo brasileira e transsexual Lea T foi notícia mais uma vez por conta da sua última proeza: foi ela a escolhida para estampar a nova campanha da Benetton. A marca de origem italiana, conhecida por suas campanhas fortes e por defender causas políticas nobres, diz que a modelo foi escolhida por representar a luta contra o preconceito. Quando olhamos para trás e pensamos em supermodelos como Kate Moss, Tony Ward, Linda Evangelista, Naomi Campbell ou Mark Vanderloo é possível traçar um paralelo mais ou menos linear entre eles. Além da hipersexualização do próprio género (ou o que aprendemos a identificar como "masculino" e "feminino”), as formas simétricas pareciam ser um requisito básico da profissão.
O final dos anos 2000 trouxe uma espécie de revolução que contraria esta forma de retratar o ‘masculino’ e o ‘feminino’. Lea T e o modelo bósnio Andrej Pejic, têm sido os representantes máximos dessa mudança em curso. Na companhia de outros nomes como Stella Tennant, Marcel Castenmiller, Amanda Moore e outros, eles têm abalado os pilares do mundo fashion com sua sexualidade não-definida.
O bósnio Andrej Pejic é o porta voz desse grupo: tanto pode aparecer nas passarelas com roupas femininas ou masculinas que, a cada aparição, o seu status de “modelo sensação” cresce ainda mais. Recentemente, o rapaz fez uma visita à rainha britânica usando minissaia e fez a festa dos tablóides londrinos. Nos editoriais de moda, o modelo brinca com o seu próprio género e joga as categorizações de cunho sexual para um canto.
Os mais cínicos dizem que se trata de uma sábia estratégia de marketing, mas o próprio Pejic mostra que é mais complexo e, fora das passarelas e das revistas de moda, continua frustrando expectativas. Nas poucas entrevistas que dá, o modelo não faz questão de facilitar para ninguém e diz que não se considera gay: “profissionalmente deixei meu género aberto à interpretação artística”.
A imprensa já não sabe como tratá-lo e, no malabarismo das fronteiras do politicamente correcto, acabam por cair na própria armadilha ao referir-se a ele sempre como o “modelo andrógino”.
Recentemente falou-se muito de um estudo que comprova a tese de que o sexo não está somente condicionado a fatores biológicos mas também sociais. A pesquisa, divulgada pela Association for Psychological Science defende a ideia de que as relações de poder dentro dos dois gêneros estão ultrapassadas. “Acreditamos que essas descrições não retratam fielmente como os homens e as mulheres normalmente se comportam” disse um dos autores do estudo em entrevista para a Current Directions in Psychological Science.
Ainda é cedo para analisar como toda esta inversão de valores e confusão de gêneros têm afetado os nossos padrões de beleza estabelecidos. Ou se estamos perante uma nova revolução de identidade sexual, dando origem à um terceiro (ou quarto) sexo. Afinal, fomos pegos bem no meio dessa transformação.
Título corrigido às 12h17 de 29 de Janeiro de 2013