Israel: Trabalhistas recusam entrar no Governo e ultra-ortodoxos formam “maioria de bloqueio”

As negociações para formar a próxima coligação já começaram, mas a tarefa do (ainda) primeiro-ministro Netanyahu não está a ser fácil. A isenção do serviço militar dos religiosos é um ponto de atrito.

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Shelly Yachimovich rejeita coligar-se com Netanyahu Nir Elias/Reuters

“Meio milhão de pessoas votaram em nós e, em conjunto com o Shas, temos 18 lugares no Knesset; não excluímos outros partidos mas os nossos princípios são claros” disse, citado neste domingo pelo jornal Há’aretz, o deputado Moshe Gafni, do Judaísmo Unido da Torah (representante dos religiosos ashkenazim ou judeus de origem europeia). Aquele número, salientou Gafni, é comparável aos 18 assentos conseguidos pelos centristas do Yesh Atid, de Yair Lapid, a grande surpresa das legislativas da passada terça-feira.

O Shas (que representa os mizrahim, oriundos do Médio Oriente e Norte de África) fez um anúncio igual, o de se aliar à outra metade ultra-ortodoxa, mas, entretanto, iniciou negociações com Natan Eshel, conselheiro de Netanyahu, sobre um eventual compromisso relativo ao recrutamento dos ultra-ortodoxos para o serviço militar obrigatório. O partido de Lapid foi o segundo mais votado, depois do Likud-Yistrael Beiteinu, de “Bibi” e Avigdor Lieberman, em grande parte por ter prometido acabar com “Lei Tal” que, desde há décadas, isenta os haredim (“tementes a Deus”, em hebraico) de cumprirem a tropa enquanto frequentarem os seminários (yeshivot).

As próximas semanas, adianta o Ha’aretz, serão cruciais para avaliar se o Shas, que tem sido um “aliado natural” do Likud, manterá a cooperação com o Judaísmo Unido da Torah ou se avança para um governo com Netanyahu. Talvez não seja difícil um entendimento com o Shas agora que o pragmático Arieh Deri, antigo ministro do Interior, voltou à liderança (em 2012), depois de um hiato de 13 anos em que enfrentou processos judiciais e 22 meses de prisão por corrupção.

Quem já determinou que não será parceira de “Bibi” é Shelly Yachimovich, a líder do Partido Trabalhista que obteve um resultado eleitoral “desencorajador”, segundo as suas próprias palavras, mas que recusa as pressões para se demitir, insistindo em manter-se na oposição.

A decisão da senhora Yachimovich – que, neste acto eleitoral, renegou a etiqueta de “esquerda” e ignorou o conflito com os palestinianos, para se concentrar em questões económicas – está relacionada com o que ela designa por “o inferno de justiça social que está para vir”. É uma alusão, designadamente, ao anúncio do Ministério das Finanças (uma pasta que estará a ser rejeitada por vários convidados) de reduzir em 15 mil milhões de shekels (cerca de 7500 milhões de euros) o orçamento de Estado para cortar nas despesas sociais. Outra razão para não se juntar a Netanyahu será o seu prognóstico de “tensões e batalhas”, incontornáveis e inevitáveis, entre as duas estrelas das eleições que Netanyhau está a cortejar para o próximo Executivo: o centrista Lapid e Naftali Bennett, da extrema-direita.

O Ha’aretz refere que Yachimovich poderia ser titular das pastas dos Assuntos Sociais, Habitação ou Saúde, mas admite que as expectativas da líder trabalhista “são baixas”, porque Netanyahu jamais lhe permitiria pôr em prática a ideologia do Labour, um partido ainda muito ancorado nos sindicatos.

Em entrevista ao PÚBLICO
, Ami Kaufman, co-fundador da webmagzine +972, muito crítico de Shelly Yachimovich, que conseguiu apenas mais dois deputados do que Ehud Barak no seu pior resultado como chefe do Labour, diz que ela “deveria assumir a responsabilidade de não ter aproveitado os 28 lugares que o Kadima [cisão do Likud e centro] perdeu, e ter a seus pés o movimento de protesto social de 2011”. Pelo contrário, desperdiçou esse potencial “e deveria sair de cena”.

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