Comboios que colidiram em Alfarelos não conseguiram parar no sinal vermelho

Dois comboios não pararam à entrada da estação de Alfarelos e o segundo bateu no primeiro. Problemas de "escorregamento" nos carris poderão estar na origem do acidente.

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Adriano Miranda
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Apesar da espectacularidade das imagens de destruição, os poucos passageiros do comboio regional salvaram-se porque iam na UTE da frente e os do Intercidades porque a locomotiva absorveu o choque, evitando que este deformasse as carruagens. Os 15 feridos do acidente, que foram transportados para os Hospitais da Universidade de Coimbra, tiveram todos alta na terça-feira à tarde.

O acidente ocorreu pelas 21h15 num momento em que o trânsito ferroviário decorria normalmente na linha do Norte. O regional saíra do Entroncamento às 19h55 e deveria chegar a Coimbra às 21h51. Como é habitual, na estação de Alfarelos este deve entrar para uma linha desviada por forma a ser ultrapassado pelo Intercidades Lisboa-Porto, que é um comboio mais rápido.

Este tinha saído de Santa Apolónia às 19h30 e era esperado em Campanhã às 22h39. A passagem por Alfarelos, onde o Intercidades não efectua paragem, ocorre às 21h17 e se tudo tivesse corrido bem, teria passado pela estação à velocidade regulamentar de 120 quilómetros por hora.

Mas tudo falhou. A começar pelo comboio regional. Este deveria ter parado à entrada da estação, diante do sinal vermelho, para que lhe fizessem a agulha para a via desviada. Mas o maquinista não conseguiu segurar a composição e esta "escorregou" para além do sinal, vindo a imobilizar-se uns metros mais à frente.

Nestas circunstâncias, o regulamento prevê que a composição recue para depois entrar pelo caminho certo na linha que lhe está destinada. Enquanto isso, são accionados automaticamente sinais de restrição para o comboio que vem atrás por forma a que este reduza a velocidade e, se necessário, pare até ficar a via livre. O filme dos acontecimentos mostra que o Intercidades para o Porto não parou ao sinal vermelho e embateu no regional.

Nos momentos de aflição vividos na cabina da locomotiva, o maquinista deu-se conta que não conseguia segurar o comboio porque este não lhe obedecia. Como a velocidade excedia a permitida pela sinalização na linha, o Convel terá actuado de imediato, mas até este sistema automático - que faz imobilizar a composição no mais curto espaço de tempo -, não foi eficaz. Ao maquinista não lhe restou outra alternativa a não ser atirar-se para o chão da cabine, o que lhe terá salvo a vida.

Se se confirmar que a sinalização de via e o Convel estavam a funcionar correctamente e que o próprio sistema de frenagem do Intercidades não tinha problemas, uma das causas do acidente poderá estar na falta de aderência dos carris. Acresce que a aproximação a Alfarelos é feita desde Vila Nova de Anços sempre em descida, por vezes com uma inclinação acentuada.

O Governo já ordenou à Refer e à CP, com a colaboração do Instituto para a Mobilidade e Transportes (IMT), um inquérito para apurar responsabilidades, que terão de ser apresentadas nas próximas 72 horas.

No local do acidente prosseguem as operações de remoção dos destroços das composições acidentadas mas a queda na madrugada desta quarta-feira de uma grua que está a ser utilizada nesses trabalhos poderá atrasar a limpeza da linha feroviária e comprometer a sua reabertura.

“Estão a ser desenvolvidas diligências para encontrar alternativas, mas há inúmeras contrariedades, nomeadamente as condições climatéricas”, disse fonte da REFER à agência Lusa, acrescentando que não houve feridos na queda da grua.
 

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