As câmaras que dão tolerância no Carnaval

O Governo decidiu não conceder tolerância de ponto na terça-feira de Carnaval, 12 de Fevereiro, mas tal como em 2012 há municípios a ignorar a medida de Passos Coelho.

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Carnaval de Torres Vedras tem entrada gratuita para desempregados Miguel Manso/Arquivo

Os autarcas, da esquerda à direita, estão contra a decisão do Governo de, à semelhança do que fez em 2012, não conceder tolerância de ponto na terça-feira de Carnaval, um princípio que deverá manter-se pelo menos enquanto o país estiver sob assistência financeira e económica.
Mas já diz o povo que “tristezas não pagam dívidas” e os municípios anunciaram que vão ignorar a medida. Isto significa que, embora os serviços que dependem da Administração Central do Estado – como unidades de saúde e as finanças – estejam a funcionar, os que dependem das autarquias não vão abrir.

Veja quais as câmaras que dão tolerância de ponto:

Figueira da Foz: A autarquia vai dar tolerância de ponto aos funcionários na tarde de terça-feira de Carnaval, tal como no ano passado. O presidente da Câmara, João Ataíde (PS), disse à Lusa que quer “manter a tradição associada ao desfile de Carnaval” e respeitar “uma linha de coerência”. O Carnaval de Buarcos/Figueira da Foz é promovido pela empresa municipal Figueira Grande Turismo. O programa de 2013 – que deverá incluir, como habitualmente, dois desfiles, na avenida do Brasil, paralela à praia – ainda não foi apresentado publicamente.
 
Loulé: A tolerância de ponto mantém-se no município “por respeito” ao peso cultural e económico da festividade no concelho e na região, onde o Carnaval e a Páscoa representam picos turísticos durante a época baixa. Em declarações à Lusa, o presidente Seruca Emídio (PSD) sublinha que o Carnaval de Loulé, um dos mais antigos do país, “está profundamente enraizado na cultura” da população. No ano passado, o evento recebeu cerca de 60 mil pessoas em três dias. Este ano, o corso volta à Avenida José da Costa Mealha, nos dias 9, 10 e 12 de Fevereiro, com 17 carros alegóricos, grupos de animação, escolas de samba, cabeçudos, "gigantones" e centenas de figurantes.

Estarreja: A decisão de não conceder tolerância de ponto no dia de Carnaval é uma “má decisão”, considera o vice-presidente da Câmara, Abílio Silveira (PSD/CDS). Por isso, a autarquia vai dar feriado. “Não é um dia que vai afectar a produtividade e tornar o país mais pobre”, disse Abílio Silveira à Lusa, defendendo que o Governo “deveria respeitar os locais onde o Carnaval se faz sentir”. Mas a organização do desfile teme que a decisão do Governo se reflicta nas receitas, como aconteceu em 2012: no ano passado, assistiram ao corço 6500 pessoas na terça-feira, metade das que pagaram bilhete no domingo. Este ano, o evento tem um orçamento de 136 mil euros.

Sesimbra: Há mais de quatro décadas que o município, presidido por Augusto Pólvora (CDU), celebra o Carnaval e recebe milhares de pessoas, pelo que este ano a tolerância de ponto mantém-se. “O Carnaval de Sesimbra tem um impacto positivo na economia local - nos restaurantes, nos bares e noutros estabelecimentos -, mas também em termos culturais, porque tem um peso importante nas estruturas associativas do concelho”, justificou à Lusa a vereadora da Cultura, Felícia Costa.

Ovar: O município liderado por Manuel Alves de Oliveira (PS) também dá tolerância de ponto aos funcionários. A câmara até lança um convite a Miguel Relvas para apreciar os cortejos ao vivo, “para ver a festa e explicar se valeu a pena aquele processo todo das fundações”, afirmou à Lusa o vereador José Américo Sá Pinto. Isto porque a fundação que antes organizava o evento foi extinta e agora é a câmara que assume todas as tarefas. Com um orçamento de 250 mil euros para os 24 grupos carnavalescos e escolas de samba do concelho, os desfiles estão marcados para sábado, domingo e terça-feira de Carnaval.

Sines: A câmara ainda não anunciou se dá tolerância de ponto no dia de Carnaval mas a presidente da associação organizadora da festa, Maria Alexandra Oliveira, acredita que os funcionários municipais terão folga – até porque muitos deles estão envolvidos no desfile. O Carnaval de Sines, que se realiza desde 1926, representa um investimento de 140 mil euros, menos 30 mil do que no ano passado. O orçamento é financiado pela bilheteira, pelo subsídio da Câmara (presidida pelo independente Manuel Coelho) e por apoios de empresas locais.

Torres Vedras: Com uma importância "inquestionável" para a economia local e regional, o Carnaval de Torres Vedras realiza-se este ano, mais uma vez, com a Câmara a conceder tolerância de ponto aos funcionários. Num comunicado divulgado no site do município, o presidente Carlos Miguel (PS) apela à participação da população no corso na terça-feira de Carnaval, que terá acesso pago. Esta festividade "é algo muito sério" para o concelho e envolve "desde as pessoas, às instituições, aos empresários e às empresas", sublinha o autarca. No ano passado, os 350 mil visitantes deram ao município um lucro de cerca de 100 mil euros. Este ano, os desempregados têm entrada gratuita, mediante a apresentação de um comprovativo.

Mealhada: A tradição mantém-se também nesta autarquia, liderada pelo socialista Carlos Cabral. A Câmara concede tolerância de ponto aos funcionários, como tem acontecido em anos anteriores. Primeiro, por ser tradição, e depois porque o Carnaval representa "um grande investimento com reflexo na economia local", disse o autarca em declarações à Sic. "O nosso desafio em relação ao Governo é que se porte como nós. Que consiga levar o país sem dever nada a ninguém, e com festa no Carnaval", rematou.

Carregal do Sal: Neste município, ha tolerância de ponto na segunda-feira à tarde e na terça-feira. A Câmara quer que os funcionários municipais possam assistir e participar nos cortejos da tradicional "dança dos cus", em Cabanas de Viriato. "Não vale a pena as pessoas estarem a trabalhar contra a vontade nestes dias", justificou à Lusa o presidente Atílio dos Santos Nunes (PSD). O autarca, de 74 anos, lembrou que esta tradição é antiga no concelho e que os funcionários da câmara "nem iam produzir em condições se estivessem a trabalhar e a pensar que havia pessoas aos saltos" em Cabanas de Viriato. Apesar da tolerância de ponto, a câmara vai assegurar os serviços mínimos.

Madeira: “Aqui fica tudo na mesma. Eu não mudei. A Madeira não mudou”, disse aos jornalistas o presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim, em resposta à pergunta sobre se iria conceder tolerância de ponto. Este ano, os funcionários têm feriado à semelhança do que aconteceu em 2012. A decisão é justificada com o impacto da festa na economia da região autónoma.

Notícia corrigida às 16h de 21 de Janeiro: Augusto Pólvora, presidente da Câmara de Sesimbra, é eleito pela CDU e não pelo PS