“Guia para um Final Feliz”: um mapa para sermos mais positivos
Não é a história que nos deixa assoberbados, a chorar e a pensar em como a vida é difícil e, por vezes, triste e injusta. O filme de David O. Russell é exactamente o oposto
Num resumo breve e directo, “Guia para um Final Feliz” é a história de duas pessoas com problemas, que se encontram, vivem peripécias, e se apaixonam na busca de um final feliz. Por esta descrição, o filme é nada mais que uma comédia romântica. A crítica vai bastante de um lado ao outro, do positivo ao negativo.
Luís Miguel Oliveira, do "Ípsilon" diz ser um filme “sem importância especial (…) nem especialmente bom”. Jorge Mourinha, também do "Ípsilon", não esmaga o filme, mas também não o coloca acima do limiar do razoável. Já Manohla Dargis, do "The New York Times", habitualmente severa, parece encantada e com o coração derretido com “Guia para um Final Feliz”. Diz bem dos actores, diz bem do realizador, diz bem do argumento, da história… E depois, finalmente, fala sobre o final feliz e sobre a mania que agora existe de que, se os filmes não acabarem mal, ninguém os vai achar realmente pungente.
“Guia para um Final Feliz” não é a história que nos deixa assoberbados, a chorar e a pensar em como a vida é difícil e, por vezes, triste e injusta. “Guia para um Final Feliz”, pelas mãos de David O. Russell, é exactamente o oposto. Esta história, complementada por muito boas performances de Bradley Cooper (no papel de Pat) e de Jennifer Lawrence (Tiffany), é honesta, doce, adorável e inspiradora.
Embora repleta de clichés no romance entre os personagens principais (como comédia romântica que é), temos a sensação de estar a fazer o caminho inverso na relação deles. Neste caso, o difícil vem primeiro e, com esforço e com dedicação, eles encontram o final feliz. E isso é realista. Isso é verdade. Estamos mais que habituados – uma corrente que, devo dizer, é desesperante – a ver representados o divórcio, o desespero associado a relações longas, a impossibilidade de fugir ao que uma relação vai, seguramente, ter de mau, entre outros prognósticos muito simpáticos sobre a vida.
Mas, curiosamente, o espectador do mundo actual sente-se desconfortável e sente que é irrealista ver um filme sobre finais felizes e sobre como viver com pensamento positivo. Curiosamente, o crítico da actualidade diz que é um filme sem profundidade, sem tema que se lhe diga, sem nada de especialmente bom.
O cinema, tanto no que respeita a realização como no que respeita os argumentos, evolui e muda com a sociedade e com a ideia do que a sociedade espera ver reflectido das suas realidades. Mas, muitas vezes, também se torna necessário apresentar em filme (uma das formas de arte que chega a mais pessoas) aquilo em que as pessoas deviam acreditar, em vez do reflexo cru da realidade. “Guia para um Final Feliz” é catapultado pelas performances de Cooper e Lawrence, assim como pelos momentos fantásticos com o pai ligeiramente obsessivo-compulsivo de Cooper, interpretado por Robert de Niro. Mas, o que mais se destaca neste filme é a obsessão espontânea da personagem principal pela busca do final feliz.
Os truques, as rotinas, os “slogans” que Pat encontra para se motivar e para se manter focado, os objectivos que procura atingir, a maneira como quer controlar as suas características negativas deviam ser uma inspiração para todos numa fase em que sentimos que as coisas estão tão mal que ter uma chance de um final feliz, já é muita sorte.