Zico, o pitbull que mordeu a pessoa errada

É verdade que a justiça já começou a mudar. Mas escolheu começar pelos animais de quatro patas quando devia ter começado pelos de duas. Esses sim, são um perigo

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Tiago Leal

A Justiça em Portugal está a mudar e, pelos vistos, a tornar-se mais ágil. O país precisava de uma justiça mais rápida, mas tinha esperança essa mudança começasse no julgamento e investigação de pessoas. Pelos vistos, a rapidez começou no julgamento de animais.

A servir de exemplo, temos um julgamento sumário de um cão arraçado de pitbull que feriu de morte um bebé de 18 meses, em Beja, tendo sido condenado à pena de morte. Se a rapidez da justiça para os animais ainda fosse como a dos humanos, este cão teria ainda bastantes anos em prisão domiciliária, num canil com boas condições (qualquer advogado estagiário conseguiria ar condicionado e SportTv) e, provavelmente, nem chegaria a viver para cumprir a real sentença, que andaria de recurso em recurso. Sinceramente, talvez essa fosse a pena mais adequada – viver o resto dos seus dias privado da liberdade de conviver com pessoas em geral.

Ao princípio ainda fiquei surpreendido quando li num jornal que a sentença a aplicar ao animal, a pena de morte, tinha por justificação a prevenção para que tragédias como a que aconteceu não se voltem a repetir. Não era costume de cá e até achei que era de mais condenar o dono do cão à morte, mas bem, talvez fosse o resultado de uma investigação profunda desta “nova” justiça. E se era por prevenção, talvez se justificasse. A morte de um bebé é algo que nunca deveria acontecer e que nos choca a todos, ainda para mais nestas circunstâncias.

Já estava prontinho para ir fazer um "post" inflamado no Facebook quando me pareceu boa ideia ler a notícia até ao fim. E fiz bem. Afinal de contas era o cão que tinha sido condenado à morte. O cão?! Se o dono disse a um jornal que “desejava o abate do animal” porque simplesmente não tinha condições de o ter em casa, se o cão tinha sinais aparentes de fome, as orelhas cortadas evidenciado que poderia ser utilizado em lutas de cães e nem sequer registado estava, se passava o dia fechado no apartamento e até já tinha atacado duas vezes o dono, o cão é que vai ser abatido?

Claro que o abate do cão serviria de prevenção. Duvido que aquele animal em concreto, depois de abatido, voltasse a fazer mal a quem quer que fosse. Já o abate do outro animal preveniria que mais cães tivessem que ter uma vida miserável, fechados num apartamento com fome, sujeitos aos seus instintos de sobrevivência e a ver potenciais inimigos em bebés que tropeçam neles.

Tenho esperança que o animal de quatro patas não seja abatido. Mas também tenho esperança que ninguém se lembre de se armar em Ceasar Milan, o Encantador de Cães americano milagroso, e o reabilite e ponha de novo numa casa com humanos. Cães como o Zico estão marcados por um passado de pesadelo e têm que ser tratados por quem sabe e não por qualquer um. Muito menos por quem quer ter um cão potencialmente perigoso para dar nas vistas, como tantas vezes acontece. Para isso, pintar o cabelo de cor-de-rosa chega bem. Um canil ou um abrigo para cães seria a melhor solução para o cão.

Já em relação ao outro animal, quer-me parecer que nada lhe vai acontecer. É verdade que a justiça já começou a mudar. Mas escolheu começar pelos animais de quatro patas quando devia ter começado pelos de duas. Esses sim, são um perigo.

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