Quando a "Playboy" portuguesa de Fevereiro sair, Ana Dias completa a terceira edição consecutiva como fotógrafa responsável pela capa. Um percurso feito em “fast-forward” por uma fotógrafa de 28 anos, auto-didacta, formada em Artes Plásticas.
Em 2007, quando terminou a licenciatura na Escola Superior Artística do Porto, a fotografia tinha feito apenas uma breve aparição na vida de Ana Dias, num trabalho universitário (“fotografei paredes, 'stencil', 'street art', não tinha nada a ver com o que faço agora”, recorda).
Foi ainda do outro lado da lente, como modelo fotográfica para os colegas de curso, que descobriu que a fotografia a apaixonava. “Adorava aquilo. Olhava e pensava o que faria diferente, via as falhas de luz ou composição. Comecei a ter vontade de passar para o outro lado.”
A aposta “mais a sério” na área surgiu com a sessão “Big Girls Don’t Cry”, fotografias que a tiraram do anonimato e onde a jovem portuense começou a construir a sua equipa. Estávamos no Verão de 2010.
Nessa altura, já Ana Dias era há muito tempo uma assumida coleccionadora de revistas da "Playboy": os quiosques dos países que visita são uma espécie de ponto turístico de paragem obrigatória para aumentar a colecção.
Foi numa dessas paragens, na Polónia, que se cruzou com um anúncio de um concurso de fotografia erótica da revista sérvia, que acabaria por ser a primeira "Playboy" a publicar o trabalho da portuguesa – e que a premiou na Fotoerotika Konkurs 2012.
O sonho de publicar em Portugal coincidiu, no entanto, com o fecho da edição portuguesa da "Playboy", em Julho de 2010, depois de a revista ter estampado na capa Jesus Cristo ao lado de uma mulher nua, em alusão ao livro "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", de José Saramago.
Ana Dias não desistiu. Foi aumentando o portefólio sempre com a "Playboy" na cabeça – “Queria ter o máximo de trabalho na área e comecei por uma interpretação das fotografias da Marilyn Monroe na primeira Playboy americana”.
Um dia, o telefone tocou e o convite surgiu: a "Playboy" portuguesa, entretanto reaberta, queria publicar o trabalho dela. “Fiquei super feliz.”
Trabalhar numa revista como a "Playboy" num país como Portugal não é fácil. Ainda há vergonha na hora de entrar num local para comprar a revista, “ainda é difícil encontrar mulheres que se dispam sem problema.”
Talvez por isso, Ana Dias sente (com alguma tristeza) que o reconhecimento pelo seu trabalho surge sempre do exterior em primeiro lugar. “Tenho muitos convites de revistas estrangeiras.” Há dias surgiu outra confirmação disso mesmo: o CreativeBloQ! elegeu-a como uma das 20 fotógrafas mais inspiradoras para seguir no Behance.
A "busca da perfeição"
A inspiração de Ana Dias vem sobretudo da beleza feminina - “o corpo, a atitude subtil, o sorriso, a postura delicada e sensual” – e as ilustrações de "pin-up" do pós-guerra, sobretudo as de Gil Elvgren, são uma imagem sempre presente.
O objectivo de cada sessão é a “busca da perfeição” e aí tudo conta: desde a escolha da modelo ao tratamento posterior da imagem em "Photoshop". “O que mais gosto é que a mulher se veja e goste dela, não pode parecer outra pessoa, tem de ser ela, mas perfeita.”
Para isso, muito conta a pré-produção. Aliás, boa parte do trabalho é feito antes de pegar na câmara: “Começo por fazer uma pesquisa do tema, desenho cenários, as posses das modelos, às vezes as roupas”, explica a jovem, que tem nos fotógrafos Ellen Von Unwerth e Eugénio Recuenco as suas grandes referências.
Depois de publicar nas edições portuguesa e sérvia e de ter sido a fotógrafa responsável pelo calendário de 2013 da Playboy, com publicação este mês, Ana Dias sonha com as edições do Brasil e dos Estados Unidos. E trabalhar para a "Pirelli" e sair num livro "Taschen" também estão na lista de objectivos: “Sonho sempre muito alto, depois logo se vê.”