Morar em Lyon: a aventura gaulesa de Patrícia Tavares, uma jornalista de 30 anos
Patrícia Tavares mudou-se para Lyon para continuar a fazer aquilo lhe dá prazer: ser jornalista. A tal da crise bateu-lhe com a porta mas ela voltou a abri-la lá para os lados da Gália. E fê-lo à grande e à francesa através da Euronews
Era uma vez uma jovem de Vale de Cambra , sorriso rasgado, olhos vivos e um timbre de voz marcante que disse que queria ser jornalista. Cresceu e mudou-se para o Porto onde viria a estudar Jornalismo e Ciências da Comunicação na Universidade do Porto local. Dos bancos da faculdade até aos microfones da Rádio Renascença foi um salto ou não fosse ela uma mulher talentosa.
Tudo parecia estar a correr bem até ao dia em que, e como a própria diz, “uma crise vestida de fato e gravata" a escolheu. Estávamos em 2010 e a Patrícia tomou uma decisão: “decidi que em vez de uma vítima me tornaria num resultado da crise”. E assim foi. Acreditou que “a próxima porta teria de ser maior". "Tentei e arrisquei tudo até que chegou o telefonema de Lyon”, conta E esta foi uma chamada que mudou tudo.
Actualmente, Patrícia desempenha funções de “jornalista bilingue na Euronews. "Sou responsável pelo magazine Le mag do serviço português. Moda, música de agora e de sempre, cinema e a cultura pop da Europa e do resto do mundo”, esclarece.
Cidade das sedas, com um pouco de tudo
Fundada por romanos há mais de 2 mil anos, Lyon é uma das maiores cidades francesas e carrega consigo muita história e beleza arquitectónica. Quem por lá passou sai encantado e não tem dúvidas em afirmar que é uma das cidades mais bonitas da Europa. Mas é muito mais que isso. Tem tradição industrial, cultural e académica. É a cidade dos irmãos Lumière e de Antoine de Saint-Exupéry. É a cidade das sedas, “fornecedora dos grandes costureiros parisienses, com uma textura suave, leve, onde qualquer habitante tem a oportunidade de poder vestir uma peça de seda ou sentir-se um cidadão de luxo”, salienta Patrícia Tavares.
E a Patrícia vive em Lyon há mais de seis meses onde aterrou, confessa, “com 30 quilos de vida e já dois de saudades”. Muita dessa saudade pesa na relação de seis anos com o Miguel Neves Gomes, que se vai suportando com visitas e conversas diárias no Skype e redes sociais. É caso para se dizer que, quando se gosta, a distância consegue ser curta.
Entretanto, Patrícia vai tentando tirar o máximo partido daquilo que Lyon tem para oferecer, como o Vieux Lyon. “O bairro medieval e renascentista de Lyon fervilha de história e de gente”, refere. Mas a cidade tem outras coisas que lhe agradam, como a rede de transportes públicos, que “é a mais eficiente" que já conheceu. É também “uma cidade que recicla”, que bebe “vinho ao final da tarde e come os melhores queijos à sobremesa”, descreve. Infelizmente é uma cidade que “fecha as portas muito cedo, com uma vida social muito particular e que quase morre ao domingo”, aponta com algum desânimo. Pois, nem tudo pode ser perfeito.
Já sobre o lado social, esse parece ser multicultural. Patrícia foi recebida por portugueses, conheceu a cidade com espanhóis, partilhou refeições com turcos e risadas com italianos. “Em França, há sempre um português para nos falar e dar a mão e dizer que vai correr tudo bem.” Ainda bem, pensamos nós.
Quanto às diferenças entre portugueses e franceses é bastante esclarecedora: “Descobri que muitos dos clichés sobre os franceses são verdade, desde a baguete debaixo do braço até ao constante 'voilá'. Têm um pulso de ferro em lutas sociais, sindicatos fortes e defendem os direitos do trabalho. Em Lyon, vejo executivos de fato e gravata a chegarem ao trabalho de bicicleta, com a pasta no cesto. Poucos chefes em Portugal dispensam um topo de gama e uma erva daninha para lhes segurar nos papéis. Em Portugal, o que vem de fora é que é bom. Em França, o que é francês é que é bom. Os portugueses adaptam-se aos turistas e acolhem os estrangeiros. Em França, quem não se adaptar pode fazer as malas e zarpar.” A ideia que todos temos deles…
Sobre aquilo que mais sente saudades Patrícia lança uma questão: “Já alguém disse que a comida portuguesa é a melhor? Sonho com comida todos os dias”, diz, com um sorriso nos lábios. E não esconde uma convicção: “Aterrar no meu querido Aeroporto Francisco Sá Carneiro no Porto continua a ser uma das melhores sensações da minha vida. Mas foi a França me deu uma grandessíssima oportunidade.” E há que a aproveitar.
Confiante, afirma que os portugueses — digam o que disserem — “podem ganhar em qualquer campeonato”. E a Patrícia parece estar, sem dúvida, a lutar pelos lugares cimeiros. Por cá damos-lhe todo o nosso apoio e, pelo meio, sempre a vamos vendo e ouvindo na Euronews.