O filho de Benazir Bhutto fez um discurso e pode querer suceder ao avô, à mãe e ao pai
É uma aposta de futuro, não para o imediato. O PPP aposta no jovem membro da famosa família para recuperar credibilidade
Não há coincidências é uma espécie de ditado popular universal. No dia do quinto aniversário da morte de Benazir Bhutto, a antiga primeira-ministra paquistanesa assassinada durante uma campanha eleitoral, o seu filho lançou-se na política.
"O farol da democracia continua a brilhar", disse Bilawal Bhutto Zardari aos milhares de apoiantes do Partido do Povo do Paquistão (PPP), que se reuniram junto ao altar/mausoléu dos Bhutto na província de Sindh.
Ao lado de Bilawal Bhutto Zardari esteve, sempre, o seu pai, o actual Presidente, Asif Ali Zardari. Porém, é pelo lado da mãe que a sua linhagem política é antiga e mais forte - é neto de Zulfikar Ali Bhutto, que foi Presidente e primeiro-ministro, fundou o PPP e morreu enforcado depois de ter sido condenado à morte por ter mandado matar um opositor. É uma figura controversa, mas continua a ser respeitado como reformador, sobretudo da política externa do Paquistão.
Zardari disse que a mãe se sacrificou "em nome da democracia" e declarou que o povo é "a fonte do poder" no Paquistão. A cerimónia de homenagem a Benazir - e o discurso do seu filho - foi transmitida pela televisão estatal e marcou uma mudança de rumo para Bilawal Zardari, até aqui um participante quase invisível da vida política, apesar de deter a presidência do PPP.
A relação dos paquistaneses com os Bhutto tem sido inconstante. Ali Bhutto foi executado, Benazir foi primeira-ministra duas vezes (candidatava-se a um terceiro mandato quando foi assassinada num atentado à bomba, em 2007, atribuído aos taliban; a investigação não chegou a uma conclusão) e não escapou às acusações de corrupção e favorecimentos. O marido deteve vários cargos no segundo governo da mulher e foi preso em 1996, por corrupção, mal Benazir saiu do poder.
Depois de libertado, Zardari exilou-se no Dubai, regressando depois do assassínio de Banazir para orquestrar a coligação que afastou o antigo Presidente Pervez Musharraf, e foi eleito chefe de Estado em 2008.
O filho de Benazir tem 24 anos e não pode ser o candidato do PPP nas eleições legislativas de Setembro de 2013, uma vez que a lei exige que os candidatos tenham no mínimo 25 anos. Foi, pois, um arranque de carreira a pensar no futuro, não no imediato. Até lá, terá de se dar a conhecer aos paquistaneses, que mal o conhecem.
Por isso, o primeiro grande discurso do paquistanês formado em Oxford, a universidade britânica, foi tão marcado pela herança familiar. A dos Bhutto. "[O nome] Bhutto é uma emoção, um amor", disse o filho de Benazir, citado pela BBC.
É neles que o PPP se quer apoiar para recuperar nas sondagens, que mostram o partido em queda. Procuram um sucessor credível já que o pai, o Presidente, é novamente suspeito de corrupção. "Seguindo a tradição de gerações, Bilawal Bhutto Zardari irá provar que ele é um ponto de viragem para a democracia e para política", disse o primeiro-ministro, também do PPP, Raja Pervez Ashraf.