Sala dedicada a Eugénio de Andrade vai abrir na antiga Biblioteca do Porto

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A Fundação Eugénio de Andrade foi, formalmente, extinta em Setembro de 2011 PAULO PIMENTA

Pelouro do Conhecimento da Câmara do Porto adianta que o novo espaço deverá abrir ao público, no claustro da biblioteca vizinha do Jardim de S. Lázaro, até ao final do primeiro semestre de 2013

A Câmara do Porto já decidiu o que fazer ao espólio do escritor Eugénio de Andrade. Numa das alas do claustro da Biblioteca Pública Municipal do Porto (BPMP), localizada junto ao Jardim de S. Lázaro, está a ser criada a Sala de Colecções Especiais com o nome do poeta. O objectivo da autarquia é abrir o espaço até ao final de Junho do próximo ano.

"A Câmara do Porto está a desenvolver um projecto integrado que visa dar visibilidade ao poeta e à sua obra, através do espólio que lhe foi confiado", explica, por escrito, fonte do pelouro do Conhecimento da autarquia. O espólio do escritor, nascido no Fundão, passou para a posse do município a 22 de Dezembro do ano passado, após a extinção da fundação com o seu nome.

Agora, o município está a criar a Sala de Colecções Especiais Eugénio de Andrade, ao mesmo tempo que se prepara para disponibilizar "o inventário da correspondência e manuscritos no catálogo em linha das bibliotecas municipais, facilitando, desta forma, uma ampla divulgação do mesmo".

O município explica que a sala de colecções irá funcionar como "um espaço de consulta de núcleos de documentação especial", mas também como um "núcleo evocativo" da obra do poeta e da sua ligação à cidade do Porto. Para tal, o público terá acesso a uma "selecção de documentos e de obras de arte" que integram o espólio.

O pelouro do Conhecimento garante que a preservação dos documentos do poeta está no centro das suas preocupações, pelo que todos estarão "devidamente acondicionados num espaço que garante as condições ambientais necessárias". Quem os quiser consultar, terá de o solicitar e ficará sujeito às condições que se aplicam a "outros núcleos de documentação especial", informa.

A disponibilização e a conservação do espólio de Eugénio de Andrade estão a ser trabalhadas por uma equipa multidisciplinar, que inclui bibliotecários e técnicos de conservação e restauro. Em curso está ainda um projecto de digitalização dos documentos, "tendo em vista a sua edição na Biblioteca Digital", que já integra outros textos à guarda da BPMP, como o Roteiro da Viagem de Vasco da Gama à Índia ou vários manuscritos medievais.

O último aspecto que a autarquia quer desenvolver é a divulgação da obra do escritor junto das escolas, através do projecto de animação comum do serviço de apoio às bibliotecas escolares e salas infanto-juvenis da BPMP e da Biblioteca Municipal Almeida Garrett.

O PÚBLICO questionou o município sobre o valor do investimento a realizar para preservar e divulgar o espólio de Eugénio de Andrade, mas a resposta foi evasiva. "O desenvolvimento deste projecto implicará um investimento considerável em termos de recursos humanos, condições logísticas e tecnológicas", disse apenas a mesma fonte do pelouro do Conhecimento.

A Fundação Eugénio de Andrade foi extinta em Setembro de 2011, depois de um pedido feito pela própria direcção deste organismo, ao Governo, já em Dezembro de 2009. Em 2010, o presidente da fundação, Arnaldo Saraiva, justificava essa decisão com "razões de ordem jurídica, financeiras e logísticas". Desentendimentos entre a direcção da fundação e os legatários de Eugénio de Andrade (Miguel Moura, seu afilhado, e os pais deste), logo após a morte do poeta, em 2005, não terão sido, também, alheios a este desfecho.

Perante o impasse criado em torno do espólio - pedia-se a transformação da sede da fundação numa casa-museu dedicada ao autor e à poesia em geral -, a Câmara do Fundão chegou mesmo a disponibilizar-se para o receber, mas o município do Porto acabou por assumir a sua posse.

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