No Natal também se dança com a beleza glaciar da música que vem da Sibéria por Nina Kraviz

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Nina Kraviz vai actuar no Gare e no Lux DR

Depois do álbum de estreia, a russa Nina Kraviz transformou-se numa das figuras mais cotadas das electrónicas de dança

Num universo onde os homens predominam foi olhada inicialmente com alguma distância, mas aos poucos a russa Nina Kraviz foi-se impondo. Este foi o seu ano.

Lançou um álbum homónimo em Março que se viria a cotar como um dos mais elogiados no campo das músicas electrónicas de dança e onde actua, nas mais diversas partes do globo, é garantia de casa cheia. É isso que irá suceder certamente, amanhã, no Porto, no espaço Gare, e quarta-feira, no Lux, em Lisboa.

No seu disco predominam os ritmos lânguidos e sincopados, a velocidade variável, com fragmentos vocais da própria, que acabam por transformar o ambiente festivo das pistas de dança em algo um pouco mais misterioso com forma de canção. É o típico objecto de alguém proveniente das músicas de dança, mas que não quer ficar prisioneira dos seus clichés.

É um disco intenso e exigente, que opta quase sempre pela toada mais profunda da música house, com formas felinas e narrações vocais fantasmagóricas. Mas como é que uma rapariga de Irkutsk, na remota Sibéria, de um país sem tradição no tipo de música que pratica, se transforma numa das personalidades mais cotadas no competitivo universo das electrónicas com vocação global? Os pais tinham uma cultura musical vasta, em particular nos campos do jazz e do rock. Foi aí que em primeiro lugar se inspirou. Depois surgiu a rádio. "À noite, na adolescência, ficava acordada até tarde para ouvir um programa de uma rádio moscovita. Foi aí que ouvi pela primeira vez uma canção de música house que me levou a descobrir os mais diversos géneros electrónicos", contava ela no início do ano ao The Guardian.

O papel da Internet veio a revelar-se determinante. Enquanto os amigos saíam à noite, ela procurava todo o tipo de informação sobre música nas avenidas da Internet, passando grande parte do tempo em frente ao computador.

Como resultado transformou-se numa especialista da história da música house. Conhecia todos os protagonistas, as suas biografias, a sua música. E começou a desejar fazer música semelhante.

Disco melancólico

Em 2006 foi seleccionada para a Academia RedBull, um acontecimento internacional que reúne músicos e DJ de todo o mundo, onde aprendeu técnicas básicas de feitura de música e estabeleceu contactos com várias personalidades do universo ao qual queria pertencer. Três meses depois estava a fazer música para si própria. "Passava os dias a fazer música, não conseguia parar e comecei a partilhar alguns temas na Internet - na plataforma MySpace - com um pseudónimo, para que ninguém soubesse que era eu e para ver como reagiam", contava em Abril à publicação Les Inrocktibles.

A partir de 2009 começou a dar nas vistas com o lançamento de alguns maxi-singles para editoras como a Underground Quality, Naif e Rekids. Mas era ainda um espectro reduzido onde se movia. O salto qualitativo haveria de ser dado com o singleGhetto kraviz e, já este ano, com o álbum homónimo de estreia. Um disco mais introspectivo e melancólico que o material anterior. "É um disco pessoal, sobre os sentimentos de uma mulher por um homem", conta ela nas notas biográficas. É um disco que reflecte um período da minha vida, apesar de não ter sido planeado dessa forma. Aconteceu, apenas. É sombrio porque era assim que me sentia e a música acaba por traduzi-lo, embora não o faça de forma óbvia."

No disco prevalece a diversidade estilística, ao nível dos ambientes e dos tempos rítmicos. Já quando se apresenta perante uma assistência a música que tem para propor torna-se menos estilizada e mais directa, como Porto e Lisboa terão oportunidade de perceber este Natal.

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