Sim, Senhor Ministro

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O tapete de rato do ministro da Defesa, Aguiar Branco, fotografado durante uma entrevista ao PÚBLICO Daniel Rocha

O que se passa por trás das portas dos gabinetes ministeriais? Em Portugal, sabemos muito pouco sobre isso - é matéria para intriga fina, sussurrada nos círculos que rodeiam o poder. Os ingleses, claro, tratam do assunto com outra alegria. O que sabemos sobre o que se passa por trás das portas dos gabinetes é o que somos capazes de imaginar a partir das séries de comédia britânicas.

De Yes, Minister e Yes, Prime Minister a The Thick of It (passando mesmo por Little Britain), o jogo de máscaras da política é desmontado e reduzido a um quotidiano trivial; aquele onde a grandiloquência do ministro Jim Hacker é reduzida a pó pelo cinismo de Sir Humphrey.

A governação é virada do avesso: a virtude e a sabedoria consistem em não saber levar a sério nada do que se diz e, se possível, em não concretizar qualquer medida. O papel dos burocratas é reduzir os políticos eleitos a objectos decorativos, tão ingénuos quanto transitórios, que devem ser ensinados a abandonar a via do mal, quer dizer as convicções e as promessas políticas.

Na mais recente The Thick of It (que não é emitida em Portugal), a sátira política absorveu o humor asfixiante e incómodo de The Office: depois de uma remodelação, uma nova ministra é recebida por um grupo de funcionários cínicos e omnipotentes que se exprimem por meios silêncios, como as personagens da série de Ricky Gervais.

Entre nós, tivemos A Mulher do Ministro, que graças ao grande talento de Ana Bola subverteu a política de uma maneira muito portuguesa, misturando-a com a casa e a família, satirizando pelo caminho a saloiice deslumbrada da geração que chegou ao poder com Cavaco Silva.

Mas, para lá do imaginário da comédia, o mundo dos ministros permanece opaco, até por obra de governantes que se levam demasiado a sério (provavelmente pelo facto, lamentável, de não existirem Sir Humphreys entre nós).

Uma excepção foi o ministro da Defesa, Aguiar Branco. Entrevistado há dias pelos jornalistas Leonete Botelho e Nuno Sá Lourenço, mostrou um outro lado de si próprio. Uma vasta colecção de canetas, por exemplo, umas das quais terá servido para fazer um desenho durante a discussão do Orçamento em Conselho de Ministros que o ministro ofereceu à editora de política deste jornal.

E a objectiva do Daniel Rocha viajou pelo gabinete e captou este tapete de rato, onde, sob o dito rato e algumas das ditas canetas, está a fotografia do ministro, ele próprio. Há toda uma interacção - quase shakespeariana - neste tapete; através dele, este ministro pode repetir para si próprio o monólogo de Hamlet - ser ou não ser, eis a questão. E se por acaso a resposta for sim, não precisará de um Sir Humphrey para lhe dizer "Sim, senhor ministro".

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