O engrandecimento de dois mitos e a queda de outro
Michael Phelps e Usain Bolt voltaram a subir várias vezes ao pódio, em Londres. Lance Armstrong foi como se nunca tivesse estado num.
No Reino Unido, os balanços desportivos do ano que está a terminar estão a ser feitos com um tom marcadamente positivo, e com razão. Foram meses de ouro para os britânicos, numa série de resultados na qual se inclui um monte de medalhas nos seus Jogos e a concretização do maior sonho de Roman Abramovich: fazer do Chelsea campeão europeu. Mas 2012 foi também marcado pela "queda" de Lance Armstrong, o homem que até este ano possuiu o registo mais impressionante do ciclismo.
Em Portugal, o FC Porto foi campeão de futebol, enquanto a Académica voltou aos dias de glória na Taça de Portugal. Lá fora, José Mourinho liderou e Cristiano Ronaldo, candidato à Bola de Ouro, foi a grande figura do Real Madrid, que roubou o título em Espanha ao Barcelona, que, contudo, reagiu com eficácia e já tem uma grande avanço no campeonato 2012-13. Mas quem saiu do relativo anonimato, pelo menos para uma boa parte do público nacional, foi a dupla de canoístas Emanuel Silva e Fernando Pimenta, que falharam o ouro olímpico por cinco centésimos de segundo. A sua medalha - de prata - foi a única obtida por Portugal nos Jogos Olímpicos de Londres.
Na capital inglesa, tal como em Pequim, voltaram a brilhar Bolt e Phelps. O jamaicano repetiu as suas vitórias nos 100m, 200m e 4x100m. Nunca ninguém tinha triunfado nos 100 e 200m duas vezes consecutivas - e muito menos somado a estafeta à dobradinha. "Agora sou uma lenda. E também o maior atleta de sempre", declarou em Londres, depois de confirmar o seu estatuto de melhor sprinter da história do atletismo.
Phelps, ao contrário de Bolt, não foi imbatível em Londres, mas conseguiu ser o atleta com mais medalhas (seis) e títulos (quatro) na capital inglesa. O nadador norte-americano acabou a carreira com 18 medalhas de ouro, o dobro dos segundos da lista (Larisa Latynina, Paavo Nurmi, Mark Spitz e Carl Lewis) e um total de 22 presenças no pódio (mais quatro que Latynina). Recordes que estão para durar.
Os Jogos Olímpicos foram o ponto alto dos resultados desportivos do desporto britânico. Os atletas da Grã-Bretanha conquistaram 65 medalhas (29 delas de ouro) e só ficaram atrás dos EUA, que voltaram a recuperar a liderança do medalheiro que tinham perdido em Pequim, e da China. Chris Hoy, Mo Farah ou Jessica Ennis foram alguns dos nomes que deram alegrias à nação anfitriã.
Mas as vitórias britânicas não se resumiram ao que se passou entre 27 de Julho e 12 de Agosto. A selecção de râguebi do País de Gales ganhou o Torneio das Seis Nações.
Antes de obter o seu 4.º título olímpico (e a 7.ª medalha), Bradley Wiggins já tinha razões para comemorar. O antigo especialista do ciclismo de pista foi o que gastou menos tempo nas 20 etapas (mais o prólogo) entre Liège e Paris e garantiu para si o estatuto de primeiro britânico a vencer a Volta a França. Curiosamente, a prova gaulesa começou no país de nascimento de Wiggins, a Bélgica.
No futebol, o Chelsea igualou o que antes tinham conseguido Liverpool, Manchester United, Nottingham Forest e Aston Villa, os outros clubes ingleses já coroados como campeões europeus. E em Setembro, Andy Murray juntou o US Open à medalha de ouro olímpica e tornou-se o primeiro tenista masculino britânico a vencer um torneio de singulares do Grand Slam em 76 anos. O último tinha sido Fred Perry, que em 1936 ganhou nos EUA e em Wimbledon.
Espanha bicampeã
Depois do Euro 2008 e do Mundial 2010, a melhor geração de sempre de futebolistas espanhóis viveu mais um momento de consagração no Europeu da Polónia/Ucrânia. Os atletas de Del Bosque golearam a Itália na final por 4-0, a maior margem de vitória num jogo do título de um Europeu ou Mundial, e Iniesta foi considerado o melhor jogador da prova. Nas meias-finais, Espanha, que já tinha deixado o rival ibérico pelo caminho no Mundial, derrotou Portugal, no desempate por grandes penalidades.
Despontar da canoagem
Foi por centímetros que, em Londres, Fernando Pimenta e Emanuel Silva perderam a final de K2 1000m para os húngaros Rudolf Dombi e Roland Kokeny.
A dupla esteve muito perto de conquistar o primeiro título olímpico para Portugal fora do atletismo e se houve modalidade que esteve em destaque na comitiva portuguesa foi mesmo a canoagem. Além da regata em que esteve presente a dupla vice-campeã olímpica, a canoagem lusa conseguiu estar presente em mais três finais.
O FC Porto foi campeão de futebol e andebol, o Benfica de basquetebol, futsal e hóquei em patins (acabando com um domínio de dez anos dos "dragões"), o Sporting de Espinho de voleibol e o CDUL de râguebi. Uma das notícias do ano nas modalidades ditas amadoras em Portugal, porém, acabaria por ser a suspensão da equipa sénior de basquetebol do FC Porto.
Nesta modalidade, mas a nível internacional, a grande figura foi LeBron James, que conseguiu finalmente chegar ao título de campeão na NBA. O extremo, que foi muito criticado quando abandonou os Cleveland Cavaliers e partiu para os Miami Heat, coleccionou no mesmo ano os maiores títulos colectivos e individuais da modalidade, algo que só tinha sido conseguido antes por Michael Jordan. Sagrou-se campeão da NBA e campeão olímpico e foi ainda eleito MVP da fase regular e da final da NBA.
Rafael Nadal e Roger Federer, que chegaram aos sete títulos em Roland Garros e Wimbledon, respectivamente, Serena Williams (vencedora no US Open, em Wimbledon e nos Jogos Olímpicos), Sébastien Loeb (9.º título seguido de ralis) e Sebastian Vettel (o mais novo tricampeão mundial de Fórmula 1) ou Messi (90 golos desde 1 de Janeiro) são algumas das outras grandes estrelas de 2012.
Armstrong: 36.º no Tour
Pelo lado negativo, o ano foi marcado pelo escândalo de doping que envolveu Lance Armstrong. A União Ciclista Internacional, baseada num relatório da Agência Antidopagem dos Estados Unidos (USADA) que acusou o norte-americano de ser o líder do programa de doping "mais sofisticado e profissional" da história do desporto, anulou todos os resultados alcançados do texano posteriores a 1998, o que implicou a perda das sete vitórias consecutivas que havia alcançado na Volta a França, entre 1999 e 2005.
Na sequência do castigo, o melhor resultado no Tour de Armstrong - tão admirado pelo recorde de triunfos como pelo facto de o ter conseguido depois de ter sobrevivido a um cancro nos testículos - passou a ser o 36.º lugar obtido em 1995.
Outro acontecimento que manchou o ano desportivo foram os confrontos no jogo de futebol entre o Al-Masry e o Al-Ahly (na altura treinado por Manuel José), no Egipto, dos quais resultaram pelo menos 79 mortos