Holy Motors

A chave que tem feito tanta gente prostrar-se de joelhos face ao novo filme de Léos Carax, cineasta maldito da vaga francesa dos anos 1980, encontra-se num diálogo do filme onde se fala da “beleza do gesto”. Holy Motors é isso: um gesto cinéfilo, romântico, fantasmagórico, alegoria abstracta sobre a constante morte e ressurreição do cinema, que questiona o papel e a importância da arte e do prazer num mundo atomizado e fragmentado. É, ela própria, uma alegoria convenientemente fragmentada numa série de quadros que parecem ter saído directamente da cabeça do cineasta para o écrã. Mas esse romantismo irreversível, por mais bem-vindo que seja, não resiste à sensação algo incómoda de que Holy Motors é um filme “para entendidos”, onde o “fogo-de-vista” das constantes referências cinéfilas, do amor à arte, da tal “beleza do gesto”, se sobrepõe a tudo o resto. O que o torna, para o bem e para o mal, num “farol” cinéfilo dos tempos que correm.

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