Ionesco contra Ionesco: fotógrafa Irina condenada pelas fotos eróticas da filha Eva
Eva tinha quatro anos e queixa-se de ter sido obrigada a posar para fotografias "no limite do pornográfico". A mãe, a fotógrafa Irina Ionesco, tornou-se conhecida graças a Eva: Eloge de Ma Fille
O caso, que remonta aos anos 1970, já passou para o cinema: Eu Não Sou a Tua Princesa (2011), realizado pela própria Eva Ionesco e com Isabelle Huppert no papel de Irina, no qual a filha faz o retrato da relação perturbada com a mãe, que terminou dois anos depois da exposição (e livro posterior) Eva: Eloge de Ma Fille, em 1975, com a passagem da custódia de Eva para a família do criador de calçado de luxo francês Christian Louboutin.
As imagens em causa acompanham uma Eva criança até ao ponto de desabrochar de uma Eva adolescente, seios que despontam em poses entre a coquetterie e o cabaret, sedutora com plumas e rendas, ostensiva e inevitavelmente sexual. Irina Ionesco, filha de imigrantes romenos e fotógrafa autodidacta nascida em 1935, produziu imagens da filha (e argumenta que as produziu com a filha, com o seu consentimento e ideias) que têm paralelos directos com os retratos eróticos de mulheres adultas, usando os mesmos figurinos, adereços e poses.
Eu Não Sou a Tua Princesa explora mesmo esse cariz alegadamente obsessivo da relação da mãe com a filha, retratada como uma espécie de prolongamento da mãe. “A realidade é muito mais trash do que o filme”, garantiu em 2011 ao Le Monde Eva Ionesco sobre o filme que realizou sobre a sua relação com a mãe – “A minha mãe nunca me educou. A nossa única ligação eram as fotografias”. “A minha mãe fez-me posar para fotografias no limite do pornográfico quando eu tinha quatro anos. Três vezes por semana, durante dez anos. E era chantagem: se eu não posasse, não teria bonitos vestidos. E, sobretudo, não veria a mamã.”
Eva Ionesco, que se queixa de “nunca ter tocado num cêntimo” relacionado com as imagens, pedia ainda à justiça francesa uma indemnização de 200 mil euros e que Irina Ionesco fosse proibida de utilizar as fotografias em causa, feitas na década de 1970 – “uma época mais liberal e permissiva”, segundo a defesa de Irina, citada pelo diário francês Le Monde; um período “em que as redes de pedofilia ainda tinham muita influência”, argumentou a defesa de Eva. Nenhuma destas exigências foi reconhecida pelo tribunal.
Os advogados de Irina Ionesco defenderam mesmo, na última audiência antes de ser proferida a sentença, a 12 de Novembro, que os factos em julgamento já tinham prescrito e que Eva Ionesco era movida pelo “ódio” contra a mãe. Já a defesa de Eva, também citada pelo Le Monde, indicava que as imagens em causa (descritas como “horrores”) mostravam Eva Ionesco enquanto criança “em trajes menores” e exibindo os órgãos genitais.