A “alegre casinha” nigeriana

Oito das 19 equipas da Liga nigeriana não conseguiram ganhar longe de casa. E só três o fizeram por duas vezes.

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Jogo entre o Sunshine Stars (de azul) e o Enyimba International cortesia complete sports

Das 19 equipas que compuseram a Liga nigeriana em 2012 (eram 20, mas o Ocean Boys foi desqualificado por não comparecer, de forma repetida, nos respectivos encontros), apenas 11 conseguiram ganhar jogos fora de casa. E, destas, só três conseguiram fazê-lo em mais de uma ocasião. Não foi o caso, por exemplo, dos campeões Kano Pillars - que repetiram o título conquistado em 2008 mesmo só tendo vencido longe da cidade natal numa ocasião. É gente muito apegada à “alegre casinha”, com certeza. Mas esta é também uma história de insegurança e corrupção.

“A falta de segurança nos recintos levou a grande parte das decisões irrealistas tomadas pelas equipas de arbitragem, que na maioria dos casos decide a favor da equipa da casa”, explicou ao PÚBLICO, por email, Sab Osuji, jornalista do diário desportivo nigeriano Complete Sports. “As equipas que jogam em casa pagam aos árbitros, o que explica que, excepto casos raros, seja difícil que a equipa visitante ganhe”, concorda o blogger Ojeikere Aikhoje, acrescentando: “Os árbitros acabam por favorecer os anfitriões. É muito raro que uma equipa visitante beneficie de um penálti.”

Não deixa, por isso, de ser uma façanha aquilo que Sunshine Stars (quinto classificado), Sharks FC (sétimo) e ABS FC (15.º) conseguiram: estas três equipas foram as que mais ganharam longe de casa, na Liga nigeriana. Duas vitórias cada.

Para além das feridas psicológicas que uma derrota deixa, as deslocações na Liga nigeriana podem representar risco de vida. Que o diga a equipa do Wikki Tourists: foi assaltada por indivíduos armados, quando se deslocava para o encontro com o Warri Wolves, da 11.ª jornada. “Toda a gente no autocarro ficou sem telemóvel, dinheiro, calçado e restante equipamento, assim como o dinheiro para a alimentação e alojamento. Mas, se não fosse por nos terem roubado os equipamentos, íamos a jogo”, disse na altura o treinador do Wikki Tourists, Ladan Bosso, ao portal MTNfootball.com.

“O crime já faz parte da história do país e a rede de estradas é perigosa. As estradas são autênticas armadilhas”, refere Sab Osuji. E Ojeikere Aikhoje explica: “As equipas viajam frequentemente à noite e são assaltadas. O Kano Pillars foi a primeira equipa, nos últimos anos, a voar para os jogos fora”. Em viagens que implicam centenas de quilómetros, para atravessar a Nigéria de norte a sul, isso pode fazer a diferença.

Mas nem tudo são más notícias: “O fosso entre equipas de maior dimensão e outras ditas mais pequenas reduziu-se drasticamente”, nota Sab Osuji. A razão para este fenómeno é que já não é tão brilhante: “A generalidade dos clubes da Liga é detida e financiada pelo vários governadores regionais, que os usam como instrumentos para limpar a sua imagem”, explica Sab Osuji. O jornalista critica ainda o caos administrativo que reina na Liga: “Há dois anos que o campeonato não tem patrocinador e agora vive-se um vazio directivo. O início da nova época está previsto apenas para Fevereiro, cinco meses após o fim do campeonato”, lamenta.

Até lá, os futebolistas nigerianos têm muito tempo para descansar. E para desfrutar da “alegre casinha”.

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias e campeonatos de futebol periféricos

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