Foi um encontro feliz: o de Mariana Costa e Silva com uma placa de contraplacado, semi-abandonada numas obras nos armazéns do Chiado. Estávamos em 1998 e a jovem açoriana, que trocou o arquipélago pela capital para estudar Design de Equipamento na Universidade de Lisboa, sentia falta de uma mesinha de cabeceira no quarto que arrendou.
A placa que levou do Chiado deu origem à mesa – e foi a primeira peça de mobiliário criada pela designer, agora com 32 anos. Muito mudou entretanto. Mariana passou por algumas empresas e por lá teve a confirmação daquilo que já suspeitava: “Aquilo que queria fazer não se coadunava com empregos [tradicionais].
A marca própria chegou ao mercado em 2011 – depois de ter sido distinguida em 2009 com o prémio Nacional das Indústrias Criativas. Uma definição, pedimos à autora: “Junte menos material, menos mão-de-obra, menos ferramentas, menos espaço e tem a Cut Furniture.”
No fundo é “quase uma visão ‘naife’ do mobiliário”, diz: “O que quis foi simplificar.” Resultado: bancos, cadeiras, mesas, mesas de café e cadeirões feitos sem um único parafuso, sem cola, montados sem nenhuma ferramenta.
Simples e (muito) rápido
Feitos com aglomerado de fibras de madeira (valchromat), as peças “montam-se e desmontam-se em segundos”. Literalmente? “Um banco deve demorar uns dez segundos, uma mesa um minutos” - palavra de quem já ficou “com os punhos a doer” depois de montar móveis do Ikea, assegura Mariana Costa e Silva.
Também a execução – em máquinas CNC (controle numerico por computador) – é feita de forma rápida: “Um banco demora três a quatro minutos a ser cortado, depois leva uma cera acrílica e está pronto”, explica.
A escolha da cor das peças da Cut Forniture – vermelho – é uma mistura de “coincidência e gosto”: “Era a cor mais interessante na altura. Não é uma cor muito comercial, mas funciona bem em ‘marketing’. Sou capaz de ter de ceder nisso mais para a frente”, admite.
Além deste projecto, a designer é responsável pela Confeitaria da Mala, uma colecção de malas feitas em alcatifa, e lançou há semanas o Cuco Toys, brinquedos (ou artigos de colecção) cuja ideia é “retomar alguma identidade portuguesa mas também usar a identidade portuguesa actual na parte dos materiais”.