Não percas tempo

Foto

Estou a ler os livros de Nassim Nicholas Taleb e diverte-me a elegância com que ele tenta precaver-se contra o futuro que o desautorizará.

Como ele conhece os tempos em que vivemos - e aquilo que faz vender os livros dele - farta-se de fazer palestras e aparecer na televisão, resumindo mal o que escreveu (porque o que ele escreveu é bom e já é resumido repetidamente).

Se formos ao YouTube, encontramos horas de vídeos com ele, a gastar o tempo, a inteligência e a vida dele, repetindo e simplificando o que já nos livros repetiu e simplificou. Ele não é um homem erudito nem um filósofo, mas elogia, com argumentos empíricos, a erudição e afirma, sem o habitual e insincero "confessar", que a ambição dele é ser um filósofo à antiga, como nunca houve (nem com Aristóteles, Hume ou Popper): lido por quem não é filósofo e por muita gente.

Em The Black Swan, de 2007 com uma reedição revista e alargada em 2010, ele escreve que, deixando de ler os jornais e de ver televisão, ganhou uma hora e picos que aproveita para ler livros. Mas uma hora é muito, muito pouco.

Taleb é rico não só como autor de bons livros, mas como especulador financeiro. É pena que perca tempo com palestras, entrevistas e programas de televisão. A parte YouTube dele, que é enorme, não cria leitores: substitui a leitura, junto de quem não gosta de ler.

É essa a trágica ironia de uma pessoa que só ganha em ser lida: ele que aproveite o tempo para ler mais (e escrever menos).

Sugerir correcção