Introvertidos Silêncio. Agora são eles a falar
São vistos como distantes ou bichos-do-mato. Não gostam de multidões, preferem a conversa a dois. Uma americana, Susan Cain, escreveu um livro a defender os introvertidos como ela e assumiu como missão lutar contra a excessiva valorização dos extrovertidos. Lançámos o desafio aos leitores do PÚBLICO online introvertidos para contarem as suas experiências, dar a cara e saírem do armário.
Quando vai a jantares com pessoas de quem não é "muito íntima", Margarida Matias Pinto, 57 anos, ex-professora, escolhe "a ponta da mesa". Quando sai à noite, costuma levar o seu carro, "para poder regressar" à hora que lhe "apetece". "Com o passar do tempo, fui aprendendo a gerir a aversão que tenho ao lado mais social da vida", diz.
Cresceu a ser chamada de "envergonhada", "triste", "demasiado séria", "snob": Sílvia Pacheco, 29 anos, arquitecta paisagista, confessa: com o tempo, percebeu que "alguém introvertido não é, ou não tem de ser obrigatoriamente, uma pessoa tímida", que implica algum "nervosismo" e "ansiedade".
Ser introvertido é "apenas uma das muitas maneiras de se ser", analisa-se André Silva, estudante de Psicologia da Universidade do Minho, mas é uma característica que os próprios têm dificuldade em aceitar, "particularmente quando a sociedade e os pais nos pressionam a ser extrovertidos, a brincar na rua, a jogar futebol, a querer ir para o café com os amigos". "E às tantas acreditamos que não somos normais, sentimos que é necessário um esforço suplementar para dar a volta a essa maneira de ser. Como a maior parte das vezes não conseguimos, sobra a frustração."
Andreia Correia, 33 anos, assistente de direcção e de recursos humanos, sente "constantemente" "discriminação" por ser introvertida: "Sou mal compreendida, interpretada muitas vezes como antipática, simplesmente porque sou reservada, porque não falo da minha vida pessoal, ou porque sou pouco opinativa."
Como Margarida Pinto, Sílvia Pacheco, André Silva e Andreia Correia, muitos introvertidos levaram algum tempo a perceber que gostarem de estar em casa, sozinhos, não era necessariamente um problema.
Sentem-se mais confortáveis se não estiverem no centro das atenções. Valorizam a conversa de um para um e a reflexão e não gostam de estar em festas com muita gente. São os introvertidos que, desafiados pelo PÚBLICO online, nos escreveram a contar a sua experiência. Nem todos falam da introversão da mesma maneira, não servem de amostra representativa, mas algumas das características com que se autodefinem são, também, as que psicólogos usam para descrever o carácter-tipo. Uma delas é preferirem escrever a falar - por isso entrevistámo-los por email.
Uma americana introvertida, a jurista Susan Cain, quis mostrar que há vantagens em ser introvertido e escreveu um livro que é uma espécie de grito de Ipiranga para os introvertidos saírem do armário: em Silêncio, o Poder dos Introvertidos Num Mundo que Não Pára de Falar (Temas e Debates), desenvolve a teoria de que o mundo desvaloriza os introvertidos em nome do que chama o Ideal Extrovertido, padrão que oprime quem não se ajusta ao estilo de trabalhador em equipa, falador sem problemas em expor-se ou animador natural de festas.
O livro resulta de uma investigação de sete anos e Susan Cain tem sido recrutada para falar em público sobre o tema - a sua conferência TED em Fevereiro deste ano foi um sucesso, com 3,2 milhões de visualizações. O livro não é apenas um livro, disse: é uma missão. E esta missão é desfazer preconceitos sobre os introvertidos, mostrar que não precisam de se sentir culpados por gostarem, por exemplo, da solidão; mostrar que "a introversão não é ser anti-social, é uma maneira diferente de ser social". Ao favorecerem "o homem de acção" - extrovertido - em relação ao "homem da contemplação" - introvertido -, as sociedades ocidentais fazem dos introvertidos uma "segunda classe da personalidade, algures entre a decepção e a patologia", analisa. "Tendemos a pensar que sermos mais extrovertidos nos traz mais sucesso e nos torna pessoas melhores" - mas isso para Cain não é verdade.
Ao Ideal Extrovertido são associados atributos positivos, tornando-os mais inteligentes, mais bem-parecidos, mais interessantes, mais desejáveis para fazer amizade, mais competentes profissionalmente. Desde cedo que os professores valorizam os que têm maior facilidade em expressar-se oralmente. Profissionalmente, a capacidade para trabalhar em equipa é posta no topo da lista das competências importantes. Mas ter as melhores ideias não está necessariamente dependente de ser o melhor conversador/orador, nem o melhor trabalhador em equipa, diz. Há enormes vantagens na solidão - que, aliás, gera criatividade, sublinha. Algumas das nossas melhores ideias, manifestações artísticas e invenções foram geradas por pessoas silenciosas e cerebrais que souberam sintonizar-se com o seu mundo, defende - sem os introvertidos, o mundo ficaria privado da teoria da gravidade e da teoria da relatividade, não conheceria Chopin, Proust, Orwell, Harry Potter ou não teria acesso ao Google, diz.
Mas afinal o que é um introvertido e um extrovertido? Miguel Gonçalves, professor catedrático na Escola de Psicologia da Universidade do Minho e especialista em personalidade, diz que "a maior parte das pessoas não é introvertida nem extrovertida, está a meio". Cain faz um inventário das distinções entre introvertido e extrovertido, conceitos criados pelo psicólogo suíço Carl Jung, referindo que o que distingue um introvertido de um extrovertido é que o primeiro vira-se para o mundo interior e o segundo para o exterior; os introvertidos concentram-se na interpretação dos acontecimentos, os extrovertidos mergulham eles próprios nos acontecimentos; os introvertidos recarregam baterias quando estão sozinhos e os extrovertidos precisam de recarregá-las quando não socializam suficientemente.
Há uma tendência dos introvertidos para a reflexividade, lembra Miguel Gonçalves, e dos extrovertidos para a impulsividade - logo, com tendência a correrem maiores riscos. Numa festa, facilmente se distinguem os extrovertidos: são os que dizem piadas, que animam a conversa, que falam com toda a gente, que têm muitos amigos.
Susan Cain, por exemplo, lembra que há desacordo entre os psicólogos sobre o assunto, mas que é relativamente consensual que os extrovertidos abordam as tarefas mais rapidamente. Mais distinções: os extrovertidos pensam em voz alta e de pé, preferem falar a ouvir, raramente ficam sem palavra e por vezes deixam escapar coisas que não queriam, sentem-se confortáveis com o conflito mas não com a solidão. Os introvertidos podem gostar de festas, mas a partir de certo ponto preferem estar em casa; dedicam as suas energias sociais aos bons amigos, colegas e família; ouvem mais do que falam, pensam mais do que dizem, expressam-se melhor por escrito do que oralmente, não gostam do conflito, têm horror à conversa de café mas gostam de conversas profundas. Não são eremitas, nem necessariamente tímidos - porque timidez significa ter medo da reprovação social e da humilhação, diz. "A timidez é dolorosa, a introversão não - muitos tímidos voltam-se para dentro e muitos introvertidos tornam-se tímidos por causa da mensagem que recebem de que a sua preferência para a reflexão é errada e porque a sua fisiologia os compele a afastar-se de ambientes fortemente estimulantes", defende Cain.
Um dos aspectos em que Susan Cain não toca é na associação da felicidade e bem-estar à extroversão - e essa é a razão pela qual se valoriza tanto esta característica, notam Miguel Gonçalves e o psicólogo clínico Américo Baptista, professor na Universidade Lusófona, autor de O Poder das Emoções Positivas. "A sociedade valoriza mais a extroversão porque toda a nossa vida é comunicar", explica Américo Baptista. "O introvertido é a ausência de comunicação, como tal, a sociedade valoriza aquelas pessoas que falam adequadamente, que exprimem os seus pensamentos. Avaliam-me sempre como mais simpático se for falador, extrovertido, capaz de expressar os meus pensamentos." Sublinha que, justamente, "um dos programas para desenvolvimento do bem-estar e da felicidade é eliminar a introversão" e que "os extrovertidos vivem mais tempo e com maior qualidade de vida".
Miguel Gonçalves nota que "a vida está mais facilitada para os extrovertidos porque os estudos mostram de modo claro que há uma correlação elevada entre extroversão e felicidade e que os extrovertidos são mais felizes". "A extroversão é uma característica que facilita muito os contactos sociais; nós somos animais sociais desde os primórdios da espécie humana e quem tem maisfacilidade em comunicar com os outros tem a vida facilitada."
Uma das características incompreendidas dos introvertidos, defende Susan Cain, é o facto de os outros não perceberem que eles estão bem sozinhos. Muitos dos leitores também sublinharam isso como algo com que tiveram de ir aprendendo a lidar ao longo da vida, às vezes com luta. "Uma pessoa introvertida tem o seu próprio mundo, e o que está lá fora torna-se complementar", descreve Maria Carmo Mendes, 35 anos, investigadora da Fundação para a Ciência e Tecnologia. "Não sou eu que tenho de caber no mundo, mas o mundo, o meu, que cabe perfeitamente em mim." No fundo, "ser introvertido pode ser o escafandro onde protegemos a nossa própria individualidade".
Ricardo Cruz, 28 anos, engenheiro informático a trabalhar em Londres, quer desfazer alguns mitos sobre os introvertidos. "O ser introvertido nunca foi limitação na minha vida social. Simplesmente a vivi de maneira diferente e isso permitiu-me criar relações de qualidade - menos é verdade, mas frutuosas." Ricardo Mendes Rosa reconhece alguma dificuldade em se expor a algumas pessoas, mas, "quando alguém passa a conviver comigo de modo mais próximo, rapidamente conhece a faceta que nem toda a gente vê", diz este técnico informático de 29 anos.
Como Ricardo Cruz, também a assistente de produção no Projecto Educativo do Serviço de Música da Gulbenkian Daniela Sestelo, 28 anos, não se considera eremita: "Introversão não é apatia social, é como recarregamos, como criamos energia." A bióloga Margarida Nobre reconhece que tem dificuldade em começar uma conversa com quem não conhece, mas que ser introvertida lhe trouxe vantagens - como depender de si própria para se "entreter, desenrascar e divertir". "Nunca senti solidão, e não acho que alguma vez vá sentir, porque me basto a mim mesma. Além disso, acho que os introvertidos têm mais a tendência para parar e pensar, e agir mais reflectidamente."
Miguel Gonçalves concorda que há pessoas que estão bem sozinhas. Os extrovertidos valorizam o contacto com os outros, antecipam mais coisas positivas nisso e estão melhor nas relações sociáveis - os introvertidos funcionam ao contrário. "Podemos olhar para isso de duas formas: os introvertidos não precisam tanto do contacto com os outros, estão bem sozinhos. Mas também podemos ver nessa resposta um mecanismo protector: se sofrem com os outros - e estou a pensar em graus elevados de introversão -, é natural que os introvertidos precisem de estar sós e aprendam, eles próprios, a defender-se e a dizer: "Melhor estar só que mal acompanhado"." Andreia Correia, assistente de recursos humanos, verbaliza isto assim: ser introvertida "foi uma defesa, uma muralha" que criei "como forma de protecção emocional".
Entre as várias qualidades dos introvertidos sublinhada por Susan Cain no seu livro, uma delas é a liderança - ela defende que, apesar de um dos atributos do Ideal Extrovertido ser a capacidade de liderança, os introvertidos até podem ser melhores nisso porque "são excepcionalmente bons a liderar pessoas com iniciativa". "Dada a sua tendência para ouvir os outros e a falta de interesse em dominar situações sociais, têm uma maior tendência para ouvir e implantar as sugestões dos seus empregados."
Pedro Marques, 23 anos, consultor de gestão, nota que na sua formação "foi sempre frisado que a extroversão é o comportamento que devemos demonstrar nas entrevistas e dinâmicas de grupo": "O comportamento introvertido é um dos "pecados capitais"." Erradamente, "associa-se introversão a falta de iniciativa, falta de capacidade de trabalho em equipa, falta de auto-estima e falta de outras qualidades consideradas desejáveis", considera. Mas ele sempre viu vantagens na sua faceta introvertida: "Ouvindo mais do que falo, consigo ter visões mais ponderadas dos problemas em discussão e tenho melhores capacidades analíticas do que alguém mais extrovertido, que tenderá a ser mais impulsivo e risk taker - o meu contributo não é pior, é apenas diferente."
Será mesmo assim, quem está a escolher profissionais para uma função, em geral, valoriza os extrovertidos e desvaloriza os introvertidos? Pedro Brito, da Jason Associates, empresa de recrutamento, formação e desenvolvimento de competências que tem como clientes várias grandes empresas como Sonae ou Danone, concorda que socialmente há um preferência por pessoas extrovertidas, sobretudo em funções de liderança. Mas, muitas vezes, confunde-se o que é um introvertido e extrovertido, dois traços que são mais do que estar à vontade ou não socialmente: "Ser introvertido ou extrovertido reflecte-se na natureza da pessoa e no perfil psicológico." Ser falador, por exemplo, é um comportamento "observável", que não corresponde necessariamente à natureza: "Sou introvertido, vou a um evento com 200 pessoas, estou à vontade, faço o meu papel e ninguém diria que sou introvertido. Porque demonstro do ponto de vista comportamental, por treino, a extroversão", explica.
Há três variáveis que empurram um introvertido a ser extrovertido profissionalmente: a cultura da organização, a função que está a desempenhar e a chefia. O que acontece Pedro Brito demonstra com um exercício: pede para escrevermos a nossa assinatura e depois para a repetirmos com a outra mão. "Conseguiu fazer das duas maneiras, mas há uma delas que custa mais. Com treino, consegue disfarçar a que custa mais.O conceito de introvertido e extrovertido é o mesmo: há um que consome energia porque não é natural."
Para ele, profissionalmente, estes traços observam-se assim: um extrovertido está mais em sintonia com o exterior, resolve os problemas conversando; numa reunião, os introvertidos encostam-se à cadeira, pensam sobre o assunto e depois contribuem. "Os introvertidos têm preferência pela contemplação, para pensar nos problemas e não para falar sobre eles como os extrovertidos. Os introvertidos aprendem reflectindo, os extrovertidos aprendem a fazer. Os extrovertidos querem experienciar tudo mas não são mestres em nada, os introvertidos têm menos interesses mas com maior profundidade."
Porque está associado a uma maior interacção com os outros, à colaboração, aos processos de mudança, o extrovertido é valorizado nas empresas - erradamente. Sim, concorda com Susan Cain: "claramente" que as características da introversão deveriam ser mais valorizadas nos processos de recrutamento. "Na verdade deveria valorizar-se mais os introvertidos. Os extrovertidos estão mais orientados para a acção e são mais realistas, são curto-prazistas - há um foco mais nos resultados. Só que é preciso um balanço. Os introvertidos são pessoas mais analíticas, têm um foco mais na visão e continuidade, olham para além da curva, são normalmente mais conservadores, que precisam de ver para querer. Em relação aos processos de mudança, a atitude é: pensar. Portanto questionam as ortodoxias - isso é um contributo importante. Sobretudo na liderança, uma das coisas quando faço coaching de líder de grupo é perceber se ele tem algum oposto na equipa. Se do ponto de vista da personalidade é um alto extrovertido, então tem de procurar alguém para pensar com ele antes de tomar uma decisão porque, se não, vai estar só focado nas decisões de curto prazo e nos resultados."
É verdade que em termos de "comportamentos observáveis" são os introvertidos que tentam "disfarçar" e não o contrário. Mas, em relação à "natureza", isso "não é verdade": "Ninguém vai simular ser introvertido. Mas em termos de natureza quando é preciso tomar decisões de longo prazo um extrovertido consegue perceber que tem de esquecer o curto prazo e simular a introversão."
A capacidade para ouvir e reflectir foi, de facto, uma das características positivas mais referidas pelos leitores introvertidos, muitas vezes associada ao silêncio e solidão. Daniela Sestelo precisa de "tempo para analisar, para escolher, para pensar" e de recuperar "força e serenidade em silêncio ou em situações que não necessitem da minha atenção constante". Zita Oliveira, jurista de Tomar com 32 anos, confessa que pensa "muito" e se embrenha "mais" nos seus "pensamentos" do que muitos dos seus "conhecidos". Catarina Costeira, 27 anos, arqueóloga, acha que ao ser "introvertida", "discreta", "silenciosa", consegue "observar os outros, avaliar os contextos" e "pensar antes de agir". Miguel Rocha, 36 anos, desempregado, sente que é "mais atento aos detalhes", "melhor a ouvir as pessoas" e tem "maior capacidade de ler" comportamentos.
Durante algum tempo, João Dias, investigador de assuntos europeus em Bruxelas, confundiu introversão com timidez. Hoje percebe que se encaixa no primeiro: "Em situações que exigem um investimento pessoal em termos de interacção, eu gasto muito mais energia do que aquela que obtenho." Nuno Quintas sente isso no trabalho. Aos 32 anos, este tradutor e revisor de textos confessa que lhe é cada vez mais difícil trabalhar num ambiente com outras pessoas. "A minha produtividade desce imenso, não me concentro."
Se é difícil para alguns, para outros, "a luta diária" para superar a sua introversão na sua relação com os outros "nem sempre" é "inglória". Catarina Viana Reis, consultora de percursos profissionais, diz: "Os desafios profissionais e pessoais têm-me tornado numa "extrovertida menos tímida". Mas certamente que preferia tirar todo o partido da minha timidez, em vez de tentar superá-la!"
Assumir a introversão e tirar partido disso explicando qual é o contributo dessa característica para a organização é, aliás, o que Pedro Brito aconselha a quem a tem como característica da personalidade. "As pessoas introvertidas escrevem mais porque reflectem mais sobre os assuntos, têm um maior nível de profundidade e clareza. O trunfo dos introvertidos é claramente a reflexão e serem mais profundos, terem mais facilidade em fazer a tradução daquilo que de facto são do que os extrovertidos. Muitas vezes não o conseguem fazer porque pensam que têm de ser extrovertidos e portanto estão a ir contra a sua natureza."
Ninguém é 100% introvertido, como ninguém é 100% extrovertido. Alguns vão-se tornando mais numa coisa do que noutra ao longo da vida; e oscila-se, o que depende também do contexto. A gestão com o "lado contrário", como se faz? André Silva, que partilhou casa com dois extrovertidos, conta que o "mais desafiante era fazê-los perceber que não querer sair é simplesmente uma opção e não sinónimo de doença mental, de depressão, sabe-se lá!" Com os menos próximos, a questão às vezes complica-se: "Ou nos acham "esquisitos" e perdem o interesse, ou nos acham génios intelectuais e por isso intocáveis e perdem o interesse, ou simplesmente nem chegam a achar nada e perdem o interesse sem dar tempo a gerar ideias." A maturidade trouxe-lhe alguma compreensão sobre o facto de que "ser-se retraído, tímido, amante de uma boa tarde de chuva dentro de casa, contente com pouca gente mas de qualidade" é apenas uma "maneira de ser".
Gonçalo Marques, 21 anos, estudante no Porto, confessa que "as relações com os extrovertidos às vezes não são simples". "Perguntam-me: "Por que não falas?" ou "não tens nada para dizer?" Não é por mal, não é por desinteresse, mas por vezes é confundido como tal. E essa é uma das desvantagens de ser assim: as pessoas têm muitas vezes a expectativa da partilha, do diálogo, não lidam bem com os silêncios e olhares - mas eu sou exímio nisso, sei ouvir e sei ver." Celso Santos, 25 anos, estudante e programador freelance, diz que a facilidade ou dificuldade depende do grau de extroversão do outro. "Tendo a afastar-me das pessoas demasiado extrovertidas, pois geralmente atraem mais atenção de quem os rodeia (o que eu tendo a evitar, preferindo mesmo passar o mais despercebido possível)."
Também Andreia Correia distingue o "tipo de extrovertido". "Há os que têm autoconfiança nata, entram numa sala transmitem segurança e conseguem automaticamente cativar. Depois existem os extrovertidos "barulhentos"." É com estes que tem mais dificuldade em se relacionar por serem "pessoas muito exuberantes, espalhafatosas na forma de agir e igualmente quase sempre na forma de vestir, o que acaba por chocar com um introvertido como eu que, por exemplo, durante anos só vestia cores neutras como forma de camuflagem".
Curiosamente, a maior parte das pessoas que a arquitecta Filipa Lindo, 28 anos, conhece são extrovertidas. "Dois introvertidos tornam uma interacção mais aborrecida. Um extrovertido e um introvertido possibilitam um complemento: o ouvinte e o falador, o entusiasta e o mais contido, o consciente e o inconsequente." Sim, é verdade "que os extrovertidos têm mais sucesso, conhecem toda a gente, toda a gente os conhece". Mas pergunta: "Como seria o mundo só com extrovertidos?" Ou só com introvertidos?