“Desenhei um aqui”, “ fiz um ali”, “vamos ver o que eu deixei mais à frente”. Hazul Luzah guiou o P3 pela baixa do Porto como se a cidade fosse os corredores da sua galeria. No caminho, encontramos vários trabalhos, quadros deixados nas paredes da cidade. A street art que faz hoje distingue-se pela geometria usada. Mas o artista também expõe o seu trabalho dentro de portas.
Ao percorrer as ruas, Hazul não se envaidece quando vê alguém fotografar a sua arte. E também não fica incomodado quando descobre que o que fez foi apagado: “É o ciclo natural. Eles forneceram a parede, por isso…”.
Na verdade, o artista já está habituado a que isso aconteça. Hazul Luzah começou a fazer graffitis com 16 anos, quando descobriu a cultura do hip-hop. Durante vários anos desenhou apenas a sua assinatura: “O graffiti clássico: desde as tags, até trabalhos mais elaborados”. “Entretanto, isso deixou de fazer sentido para mim”, recorda.
Há sete anos, começou a desenhar formas abstractas, “quase como se fosse um desconstruir das letras”. Hoje, as suas obras têm “emaranhadas” a mitologia de culturas antigas, uma evolução que aconteceu naturalmente. “Sempre me interessei muito por culturas como a dos egípcios, dos celtas.”
Com esta transição veio o nome Hazul Luzah. “Mas não me perguntes porquê”, diz o artista, revelando apenas que “tem vários significados”.
A geometria nos edifícios emparedados
A street art de Hazul é feita de linhas, círculos e outras formas geométricas que encaixam em qualquer imagem, "uma forma fácil, rápida e eficaz de preencher o espaço”.
Uma obra pode demorar cerca de meia hora a ficar completa. Mas se Hazul tivesse autorização para pintar, o trabalho seria "muito mais detalhado.” Antes de começar a pintar, o artista procura conhecer um pouco da história do edifício. Mas “é fácil escolher uma parede numa cidade como o Porto, onde constantemente os prédios são emparedados”, refere.
Hazul gosta de “pintar para a cidade e para as pessoas”. “Agradava-me a ideia de pintar uma coisa de que eu gostasse e que, ao mesmo tempo, enriquecia o sítio, em vez de estar a destruí-lo ou a ocupá-lo de uma forma muito agressiva”, explica.
Conseguir autorização para pintar paredes na cidade do Porto é, no entanto, "muito difícil", lamenta: “Se se abrissem a esse universo, ganhavam todos: a cidade ganhava bons trabalhos, a câmara municipal ganhava, nós ganhávamos porque podíamos pintar com muito mais condições.”
Não se identificando, actualmente, com a vertente ilegal muitas vezes associada ao graffiti, Hazul revela que já não se considera alguém que faz graffiti. “Simplesmente pinto. Tanto na rua, como no atelier.” Dentro de portas, os trabalhos de Hazul já passaram por espaços como o Hard Club.
No atelier, o artista desenvolve trabalhos de pintura em tela, ilustração e técnicas mistas. “Agora, estou a treinar técnicas de gravura”, conta.