Neo-estalinistas afastados da proposta de novo comité central do PCP

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Jerónimo de Sousa será reeleito secretário-geral, amanhã à noite, pelo novo comité central ENRIC VIVES-RUBIO

Com uma direcção ligeiramente mais pequena, o PCP inicia hoje o seu congresso, onde vai reafirmar a linha política que tem seguido nos últimos anos. E onde ficam de fora posições extremadas sobre o euro

O novo comité central a eleger amanhã pelo XIX Congresso do PCP que hoje se inicia em Almada vai deixar de fora dirigentes que se enquadravam na linha política que pode ser caracterizada como neo-estalinista e defensora de uma pureza ideológica do marxismo-leninismo. Entre estes nomes destacam-se Filipe Leandro Martins, Ana Paula Henriques, Luís Piçarra e Margarida Aboim Inglez. O PÚBLICO pediu ao gabinete de imprensa do PCP para falar com os quatro, mas tal não foi possível até ao fecho desta edição.

Fora do comité central ficará também José Neto, antigo membro da comissão política que, de acordo com as informações recolhidas pelo PÚBLICO, sai a seu pedido.

A seu pedido saem ainda o dirigente histórico do PCP Domingos Abrantes e dois dirigentes com história que se tornaram conhecidos enquanto representantes institucionais do PCP: Odete Santos, antiga deputada à Assembleia da República, e Sérgio Ribeiro, antigo eurodeputado.

Do órgão máximo de direcção entre congressos que agora passa de 156 para 150 membros saem 30 pessoas, nele entrando 24. Entre os estreantes destaque-se o deputado à Assembleia da República João Oliveira e os eurodeputados Inês Zuber e João Ferreira.

O comité central, que será amanhã eleito pelos delegados, reunir-se-á à noite no espaço do Complexo Municipal dos Desportos Cidade de Almada, para eleger os organismos executivos e o secretário-geral. O cargo de liderança irá continuar a ser ocupado por Jerónimo de Sousa, que foi eleito a primeira vez em 2004.

E será como secretário-geral reeleito que, no domingo de manhã, Jerónimo de Sousa irá fazer o discurso de encerramento do congresso.

Os delegados irão ainda aprovar uma resolução política, documento vulgarmente chamado "Teses no PCP", e alterações ao programa do PCP.

A lista de nomes candidatos ao novo comité central reflecte vários tipos de equilíbrios internos e obedece a critérios de vária ordem que vão da idade à representação por género, passado pela profissão (intelectuais, serviços e operários) e pela distribuição regional das organizações do PCP.

Derrota de Carlos Costa

Entre esses equilíbrios encontra-se o da correlação de forças que se perfilham dentro do PCP no que se refere à forma como a ideologia marxista-leninista é encarada e interpretada. E neste congresso irá consumar-se a derrota da linha política que dentro do PCP é liderada pelo antigo dirigente e figura histórica da clandestinidade Carlos Costa, que saiu do comité central há quatro anos.

Carlos Costa, que ao longo da história do PCP sempre se posicionou à esquerda de Álvaro Cunhal, é o líder de um conjunto de militantes e dirigentes do PCP que discordam da orientação política da direcção comunista por a considerarem "revisionista". E pugnam por uma intervenção política de cariz revolucionário, sem cedências à política burguesa e à linha dos partidos marxistas-leninistas que se enquadram na orientação desde sempre defendida por Cunhal e ainda hoje vigente no PCP de "coexistência pacífica" e até "frentista" com as outras forças políticas.

A defesa destas posições tem sido sustentada em trabalho teórico de recuperação de muito do que é construção teórica do estalinismo e de recuperação do imaginário simbólico e ideológico da antiga União Soviética. Esse trabalho teórico e político tem como suporte e plataforma na Internet o site Pelo Socialismo (http://www.pelosocialismo.net) e o blogue Para a História do Socialismo (http://hist-socialismo.blogs.sapo.pt)

Entre as iniciativas deste grupo registe-se a publicação, há mais de um ano, de uma biografia de José Estaline, com um prefácio da autoria de Carlos Costa, em que este histórico dirigente comunista elogiava a figura do antigo líder da União Soviética.

Esta linha tem posições que passam, por exemplo, pela saída de Portugal da União Europeia e do euro - duas posições que não são defendidas explicitamente pelo PCP e que não revertem, por exemplo, nos documentos do congresso. Mesmo quando falam em que a União Europeia "não é reformável e está condenada ao fracasso", as Teses tratam de falar no contexto da orientação neoliberal que domina a União Europeia e não explicitam a defesa da saída do euro.

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