Quando o ensaio de Gaspar termina, todos se querem chegar ao único aquecedor da sala. Todos são A Turma, uma companhia de teatro independente do Porto que está a trabalhar em Guimarães, no frio Centro para os Assuntos da Arte e Arquitectura (CAAA). Gaspar, a partir de um texto de Peter Handke, está em cena a 30 de Novembro e 1 de Dezembro, com encenação de Tiago Correia.
Inserida no ciclo Novos Encenadores da Capital Europeia da Cultura 2012, esta turma de amigos de faculdade teve (apenas) três semanas para preparar o texto e apresentá-lo. “A Turma é um sítio onde podemos fazer aquilo em que acreditamos”, diz Tiago Correia.
Os nove fundadores são ex-colegas da Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo (ESMAE) e esta companhia nasceu ainda todos estudavam. O grupo que se costumava juntar para fazer trabalhos resolveu sair do conforto da instituição e criar uma turma independente. Estávamos em 2008. Hoje, quatro anos depois, encenaram sete peças, já contando com Gaspar, em várias salas.
Perguntamos pelas idades d’ A Turma e descobrimos que António Parra completa 25 anos no dia em que o conhecemos. São todos jovens, todos na casa dos 20 e poucos, os currículos preenchidos com projectos e mais projectos. E uma companhia de teatro, pensada e criada de raiz por todos eles, à qual ainda não se conseguem dedicar a 100%.
“O problema financeiro coloca-nos sempre a mesma questão, que é trabalhar à bilheteira”, aponta António Parra, mas ainda não é desta que vão emigrar. Vão tentar concorrer a apoios, em 2013, mas ainda não sabem o que é possível. “Existem ideias”, garante Tiago, o resto é um mistério.
Trabalhar dois anos para dois dias de palco
O original Kaspar, de Peter Handke, anda na cabeça de Tiago Correia há dois anos. Nunca desistiu de o tentar encenar e depois de uma residência em Julho último, finalmente conseguiu — ainda que só por dois dias, pelo menos em 2012, e com pouco tempo para ensaios. “É um pequeno milagre”, diz Emílio Gomes, um dos actores.
Em colaboração com o Teatro Oficina, que “emprestou” três actores, esta peça conta a história de Gaspar, um menino selvagem, como o de François Truffaut (1970), que está preso numa sala onde é “destruído pela forçada aquisição da palavra”. “Eu gostava de ser como alguém que já em tempos existiu” é uma das frases mais repetidas por Gaspar (Diana Sá) e faz parte da “tortura verbal” de que a personagem é vítima, como se lhe referiu o próprio Handke.
“Tem sido uma aventura no verdadeiro sentido do termo porque o texto é muito difícil”, reconhece Diana Sá, a mesma que achou Kaspar impossível de encenar, à primeira leitura. Num cenário escuro e simples (já dissemos frio, certo?), há talheres e cadeiras que Gaspar não sabe usar e gritos que o incomodam.
Esta sexta-feira e sábado, Gaspar tem início pelas 22h, no CAAA, e os bilhetes custam cinco euros. Esta peça regressa aos palcos em 2013, desta feita no Porto, no Teatro Helena Sá e Costa, de 17 a 20 de Janeiro.