Copé vence de novo, Fillon contesta de novo, Sarkozy mediador
Comissão de recurso do partido confirma resultados das eleições para a liderança da UMP, o maior partido da direita francesa
Seis meses depois de sair de cena, Nicolas Sarkozy voltou a ser chamado pelos seus, numa última tentativa para salvar a União para um Movimento Popular (UMP), o partido da direita francesa que pode não sobreviver à guerra em que se transformou a eleição do novo líder. Jean-François Copé, que se diz seu "herdeiro político", foi ontem proclamado vencedor das eleições de dia 17, mas o ex-primeiro-ministro François Fillon mantém a recusa em aceitar a derrota e a crise promete arrastar-se nos tribunais.
Após dois dias a analisar as queixas apresentadas pelos candidatos, a comissão de recurso da UMP anunciou que o actual secretário-geral teve mais 952 votos do que Fillon, uma vantagem que é quase dez vezes superior à anunciada após a primeira contagem e que, por ser tão escassa, lançou o partido no caos. A grande diferença de resultados é explicada pela anulação do escrutínio em três círculos em que havia suspeitas de irregularidades e pela rectificação dos resultados em outros dois - decisões que prejudicam Fillon, apesar de ter sido reparado o "erro" que levará a exclusão dos votos de duas secções ultramarinas favoráveis ao ex-primeiro-ministro.
Só que o anúncio não encerrou a saga política. Fillon não reconhece legitimidade à comissão, lembrando que a maioria dos seus membros apoiou Copé, e ontem considerou "ilegal" a recontagem.
Perante o "suicídio colectivo", "o massacre" ou o crash da UMP - expressões que enchem os jornais e que os próprios militantes não evitam -, Alain Juppé entrou em domingo em acção, acreditando que a sua autoridade de co-fundador e antigo presidente do partido seria suficiente para convencer os dois rivais a um compromisso. Mas a reunião a três durou menos de uma hora e, no final, o antigo primeiro-ministro deitou a toalha ao chão, dizendo que "não estavam reunidas as condições" para a sua missão de mediação - Copé terá, segundo Fillon, boicotado todas as propostas de Juppé, insistindo que a decisão final caberia à comissão de recurso.
Ontem de manhã, aos microfones da RTL, Juppé confessou a sua impotência e disse que só Sarkozy poderá desatar o nó em que se transformou a corrida à sua sucessão: "Parece-me claramente que ele é o único que tem autoridade suficiente para propor uma saída que eu não consigo ver."
A imprensa francesa, que cita fontes próximas, noticiou que Sarkozy, derrotado em Maio pelo socialista François Hollande, não teria intenções de regressar tão cedo à cena política - não apoiou nenhum dos candidatos à liderança da UMP e não chegou sequer a votar, recordava o Le Figaro. Mas continuar em silêncio tornou-se insustentável no momento em que a UMP corre o risco de implodir, fragmentando a direita.
Escusando-se, para já, a fazer declarações em público, o ex-Presidente almoçou ontem com Fillon, num encontro em que lhe terá dado "os melhores conselhos para superar este desafio". Pouco antes, o campo de Copé revelou que o candidato telefonou a Sarkozy e os dois mantiveram uma conversa "longa e calorosa".
A prioridade é evitar que a disputa passe para os tribunais, opção anunciada por Fillon após o fracasso da mediação de Juppé e que o levou a pedir a um tribunal de Paris a apreensão das actas eleitorais. Um oficial de justiça foi ontem de manhã à sede da UMP, mas funcionários do partido terão recusado a entrega dos documentos até à conclusão das averiguações internas. "Transferir esta querela para as mãos da justiça é agravar as fracturas e aumentar os riscos de explosão" do partido, avisou Juppé, de novo sem sucesso.