Com a morte da sua viúva, T. S. Eliot já não é zona de acesso interdito

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T. S. Eliot com Valerie Fletcher: o poeta propôs casamento à sua secretária sete anos depois de a contratar para a Faber and Faber

Não seria de surpreender que a disponibilização deste material desse em breve origem à publicação de uma nova biografia do poeta de Waste Land, presumivelmente com novos dados sobre o seu primeiro casamento com Vivienne Haigh-Wood, que viria a morrer em 1947 num hospital psiquiátrico, e também sobre as poucas (e bastante platónicas) ligações que manteve até se decidir a propor casamento a Valerie Fletcher, sete anos depois de a ter contratado, em 1949, como sua secretária na editora Faber and Faber, de que era co-proprietário.

Valerie, segundo ela própria contou, viveu obcecada com a ideia de vir a trabalhar com T. S. Eliot desde que, aos 14 anos (o poeta acabara então de fazer 50), ouvira o actor John Gielgud ler o poema Journey of the Magi. Casaram-se em 1956 e, após a morte de Eliot, em 1965, Valerie continuou a ser uma guardiã competente - ainda que, para o gosto de alguns, demasiado ciosa - da obra do escritor. Ainda assim, deve-se-lhe a cuidada edição da correspondência de Eliot, cujo terceiro volume, relativo aos anos de 1926 e 1927, saiu este Verão.

Segundo afirmou à imprensa Claire Reihill, membro da administração do T. S. Eliot Estate, o fundo que gere os direitos da obra (e que patrocina um prémio anual de poesia), Valerie estaria ultimamente "mais aberta à ideia de conceder acesso ao espólio a um biógrafo oficial", mas queria "concluir primeiro a edição das cartas".

Se a abertura do espólio pessoal de T. S. Eliot permitirá certamente elucidar melhor aspectos da sua vida privada, não é certo, contudo, que os biógrafos venham a encontrar pasto para grandes revelações e escândalos. O seu primeiro matrimónio não terá sido um exemplo de convencionalidade, mas alguns dos seus episódios mais "picantes", como o "affaire" da recém-casada Vivienne com o filósofo e matemático Bertrand Russell, são há muito conhecidos. E as prolongadas ligações que Eliot manteve com a americana Emily Hale - uma amiga de juventude que reencontrara num regresso aos Estados Unidos - e com a inglesa Mary Trevelyan, de quem foi muito próximo durante mais de 20 anos, parecem ter sido de um escrupuloso platonismo. Quando Eliot, de repente, decidiu casar-se com Valerie, Hale teve um grave colapso nervoso e Trevelyan, que tentara várias vezes persuadir o escritor a casar-se com ela, nunca mais voltou a falar-lhe.

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