Presidente da República ironiza sobre comentários à volta do seu “silêncio”
Cavaco brincou com o seu silêncio e com o Facebook.
No habitual discurso que faz na entrega destes prémios de jornalismo, Cavaco Silva começou por dizer que apenas o seu “caro amigo Mário Zambujal [presidente do Clube de Jornalistas] o convenceria a estar presente: “Ele sabe bem que eu não queria vir, tudo porque eu sabia que teria de subir a este palco e de quebrar o meu silêncio”.
“Todos sabem que o silêncio do Presidente da República é de ouro, hoje a cotação do ouro foi 1.730 dólares por onça, uma onça são 31 gramas, mais 1,7% do que a cotação do ouro naquele dia de Setembro em que a generalidade dos portugueses ficou a saber o significado da conjugação de três letras do alfabeto português: “tê, ésse, u” (TSU)”, afirmou Aníbal Cavaco Silva.
Depois, Cavaco apontou vários temas dominantes da actualidade política sobre os quais “boa parte” da população portuguesa acha que o Presidente da República “estava a reflectir” durante o seu “silêncio”.
“Até aqui, boa parte dos portugueses pensava que o Presidente da República estava a meditar, a reflectir sobre a próxima visita a Portugal da senhora já bem conhecida de todos, amada por muitos, a que carinhosamente os portugueses chamam de ‘troika’, outros estariam a pensar que o Presidente da República estava a reflectir sobre se o aumento de impostos era enorme ou gigantesco, outros pensariam que o Presidente da República estava a reflectir sobre os novos apoios que a chanceler Merkel podia trazer para Portugal na sua próxima visita ao país e outros poderiam estar a pensar que o Presidente da República estava a reflectir sobre o que fazer relativamente às pressões de vinte corporações e mais de cem individualidades para que ele enviasse o Orçamento do Estado para o Tribunal Constitucional”, declarou.
No mesmo tom de ironia, Cavaco Silva continuou: “Outros estariam a pensar que o Presidente estaria a reflectir sobre o consenso político que foi possível estabelecer entre as forças políticas do arco da governação sobre a forma de realizar a reforma das funções do Estado, outros podiam estar ainda a pensar que o Presidente estava a reflectir sobre se a transmissão televisiva dos jogos de futebol em canal aberto fazia ou não parte da definição de serviço público de televisão, mas agora, depois de ter quebrado o meu silêncio, os portugueses dirão que afinal ele estava apenas a refletir sobre a forma de evitar a sua presença na cerimónia de atribuição dos prémios Gazeta do Clube de Jornalistas”.
No entanto, “tendo quebrado o silêncio” e estando presente, o Presidente disse só lhe restar “ser muito, muito, breve, tentar passar despercebido e felicitar os premiados”.
“Fazer votos para que continuem a apostar na qualidade, felicitar Fialho de Oliveira pelo prémio de mérito que acabou de receber, o Clube de Jornalistas por conseguir resistir à crise e ainda não ter ido à falência, o que com certeza se deve à capacidade de gestão de Mário Zambujal, e esperar que a Caixa Geral de Depósitos nos ofereça um jantar que seja condizente com os tempos que vivemos e eu não possa ser acusado de estar aqui por uma qualquer guloseima”, afirmou, provocando várias gargalhadas entre convidados presentes.
No final do seu curto discurso, o Presidente da República deixou um pedido especial “aos jornalistas presentes”: “Se forem inquiridos digam que eu estive aqui mas não disse absolutamente nada, e que eu me comprometo a não colocar qualquer ‘post’ sobre o assunto na minha página do Facebook, deixo, por isso, antecipadamente o meu muito obrigado a todos”.
A cerimónia de entrega dos prémios Gazeta 2012 decorre na sede da Caixa Geral de Depósitos, tendo sido distinguidos os jornalistas Fialho de Oliveira (mérito), Paulo Moura (imprensa), José Manuel Rosendo (rádio), Amélia Moura Ramos e Miriam Alves (televisão), Alexandre Soares (revelação) e Jorge Simão (fotografia) e o Jornal de Barcelos (imprensa regional).