O orçamento da cacofonia europeia
Os interesses nacionais e as feridas da crise ameaçam bloquear o orçamento da União
O quadro financeiro plurianual para 2014/2020, que hoje e amanhã estará em discussão no Conselho Europeu, ameaça transformar-se num novo vírus para acentuar as debilidades da União Europeia. A aprovação de orçamentos foi sempre uma tarefa difícil, mas desta vez os interesses nacionais, as feridas abertas pelas divergências em torno da crise do euro e até as diferentes percepções sobre o futuro da UE tornam um acordo numa missão quase impossível. Tivesse a Comissão Europeia a força política de outrora e talvez fosse aceitável para os Estados-membros um crescimento do pacote financeiro na ordem dos 5%, porque em concreto este aumento implica um esforço menor dos orçamentos nacionais em termos de produto nacional bruto. Mas, face à actual correlação de forças, a proposta de Durão Barroso foi imediatamente reduzida pelo presidente do Conselho e, mesmo assim, continua a merecer as reservas de vários países, que a ameaçam vetar. Com quase 200 mil milhões de euros a separar a proposta da Comissão da que foi avançada pelo Reino Unido, com debates insistentes sobre os rebates e com exigências de países como a França em torno da PAC ou da Finlândia sobre os fundos para as redes de transportes, a cacofonia subiu de tom e a Europa aproxima-se ainda mais do caos institucional. As divergências da crise do euro encontram neste processo um estímulo para se acentuarem e para dificultarem a já de si árdua tarefa de se conseguir a união bancária e a união orçamental. Para além de ter de sofrer os custos da desordem europeia, Portugal terá ainda de contar com a provável redução de 5.000 milhões de euros (no cenário proposto por Van Rompuy). Uma perda que acontece num período crítico. Nada disto, porém, foi reflectido ontem no parlamento. Além de projectos de resolução genéricos, os partidos entretiveram-se na habitual troca de acusações. Mais uma oportunidade perdida para se discutir a Europa.
Uma vitória para Clinton e Morsi
Ocessar-fogo entre Israel e o Hamas anunciado ontem pela secretária de Estado, Hillary Clinton, mostra que a acção dos Estados Unidos, concertada com o Egipto, foi decisiva para obter um compromisso, que tem ainda de ser testado no terreno. O Presidente egípcio, Mohamed Morsi, marcou pontos ao ser apresentado como o principal mediador da paz, enquanto o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, reagiu de forma bem menos entusiástica, afirmando apenas que Israel iria "dar uma chance" a este acordo. O cessar-fogo acontece no mesmo dia em que os atentados voltaram a Telavive ao fim de muitos anos, mostrando falhas inquietantes na segurança de Israel e que os riscos de um regresso à violência são reais. Mas Hillary Clinton e Mohamed Morsi, os vencedores do dia, precisam agora de se questionar sobre o que fazer com esta trégua. Por si só, esta não será suficiente para mudar os termos do conflito israelo-palestiniano.