Morar em Lausanne: o relato helvético de Henry da Silva, um faz de tudo um pouco de 32 anos
Henry Wilson da Silva mudou-se para Lausanne porque sentia que por cá o trabalho não era devidamente recompensado. Enquanto procura um emprego onde se sinta realizado vai trabalhando num ramo onde nunca pensou vir a laborar: o agrícola
O Henry é uma das pessoas mais interessantes que tive o privilégio de conhecer. Aliás, creio que todas as pessoas com quem se vai cruzando apenas têm coisas boas a dizer dele. É um indivíduo que parece colecionar experiências e, acima de tudo, procura viver com paixão. Basta olhar para o seu trajeto de vida e percebe-se isso de imediato.
Amante da literatura e da música falhou a entrada na universidade por décimas. Optou então por ingressar no mercado de trabalho, quase sempre ligado ao apoio ao cliente em empresas como a TMN ou a ZON, onde chegaria a chefe de loja, cargo que manteve até ao dia em que resolveu mudar-se para Lausanne. Pelo meio foi frequentando vários cursos de formação, desde multimédia a liderança de equipas, e dedicando-se a uma das suas atividades preferidas, a de Disc Jokey (DJ). E fá-lo em nome próprio ou em projetos como Evil Heat, White Belt Connection e Pop Trash (todos com o amigo de longa data Cristiano Rocha), quase sempre no Porto, Ovar ou Sta. Maria da Feira (concelho onde reside desde os 6 anos de idade).
Olhando para o seu percurso há quase que instantaneamente uma pergunta que nos ocorre: mas o que levou este português de 32 anos a mudar-se para Lausanne quando, aparentemente, até tinha uma vida agradável? “Parti por iniciativa própria procurando o tal conforto, um outro reconhecimento profissional, mas sobretudo em busca de uma compensação financeira mais justa pelo fruto do meu suor”, revela sem qualquer preconceito. Da mesma forma com que não tem problemas em admitir que trabalha no sector primário, algo “pouco glamoroso mas vital. Exerço atividade numa empresa agrícola, onde planto, semeio, colho e transporto legumes e frutas. Um trabalho exigente fisicamente mas relaxante a nível mental, o que foi e tem sido uma novidade para mim”. Mas Henry olha para este emprego como temporário: “os próximos passos passam por encontrar um emprego onde me sinta mais realizado e veja as minhas qualidades usadas com sentido”, esclarece.
E para isso, ao longo de quase um ano, tem contado com a ajuda do pai, residente em Lausanne há mais de 5 anos e que o ajudou na transição e integração.
Uma cidade cosmopolita e verde
Lausanne fica situada na zona francófona da Suíça e junto às margens do famoso lago Léman. É sobejamente conhecida por albergar instituições ligadas ao desporto, como o Comité Olímpico Internacional ou o Tribunal Arbitral do Desporto. É, como a descreve Henry, “uma cidade extremamente cosmopolita, onde se sente um aroma do mundo dada a multiculturalidade dos seus habitantes, oriundos um pouco de todas as partes do planeta. É uma cidade pragmática, um pouco à imagem de toda a Suíça, onde é fácil encontrar o que se pretende. É intensa, dinâmica e com uma boa e diversificada oferta cultural”.
Mas o que o deixa extremamente satisfeito “é o respeito pela natureza. Quer fauna, quer flora é preservada, estimada e existe uma sensibilização cívica, não só aqui como por toda a Suíça, para a sua sustentação. Eles adoram passear nos bosques, nas montanhas, junto ao lago e, se não fosse o esqui uma atração mundial, diria que o andar em contacto com a natureza seria o desporto mais tradicional por cá”, conclui. Já o menos agradável “prende-se à sua dimensão enquanto cidade, com o ruído dos transportes e o trânsito por vezes moroso. Felizmente vivo na periferia e estes problemas não são percetíveis”, revela.
Resumindo, Henry está satisfeito com esta experiência helvética e bastante impressionado com “o seu carácter cívico e a extrema organização. É um país sério, responsável e duro fiscalmente, mas que te permite ter uma qualidade de vida a anos-luz daquela que terias em Portugal”, salienta.
E apesar de conviver com muitos portugueses e ter o pai por perto aquilo de que mais sente falta é sobretudo da vida social e familiar que tinha em Portugal. Não é por acaso que Henry define um emigrante como alguém que tem que “saber lidar com a solidão e a saudade. Tem que ser paciente e ter esperança. Ser ambicioso mas consciente da nova realidade”. E acrescenta ainda, e como em tudo na vida, que “é preciso ter saber, sorte, paixão e compreensão para se trilhar o caminho certo”. Palavras sensatas e românticas de alguém que, esperamos, encontre esse tal caminho.