Não há mulheres na política chinesa porque o seu lugar é ao fogão

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Só 23% dos mais de 2200 delegados reunidos em Pequim, no 18.º Congresso do Partido Comunista Chinês, são mulheres DAVID GRAY/REUTERS

Quanto mais se sobe na hierarquia política chinesa, menos mulheres se encontra. A culpa, dizem os analistas, é a mentalidade: eles formaram um clube privado, elas nem sequer tentam abrir a porta

Liu Yandong é a única mulher no Politburo do Partido Comunista Chinês, que está reunido em congresso em Pequim até quinta-feira. É sobre ela que estão os holofotes - irá ser promovida, tornando-se na primeira mulher a integrar o Comité Permanente, ou sai de cena?

A igualdade de géneros foi proclamada na China com a proclamação da República Popular, em 1949. Só que a realidade nunca acompanhou a teoria, e só 23% dos mais de 2200 delegados reunidos em Pequim no 18.º Congresso do PCC são mulheres. Pior do que o número, é a função que ali desempenham. Dizem os enviados da agência AFP que elas - como a maior parte dos homens presentes - se limitam a aprovar decisões tomadas pela cúpula masculina.

E o "machismo insidioso" vai continuar com a nova equipa dirigente, que só será anunciada na quinta-feira (mas já se sabe há muito que Xi Jinping será o novo Presidente).

O desiquilíbrio de géneros, dizem os especialistas, deve-se à mentalidade. A política tem características masculinas, como o consumo de álcool e as reuniões tardias, e não é fácil às mulheres adaptarem-se. "Eles reinam na política chinesa, onde há uma atmosfera de clube" só para homens, explicou à AFP a investigadora de questões de género da Universidade Tsinghua (Pequim), Leta Hong Fincher. "A participação das mulheres na política é simbólica devido a complicados factores sociais, culturais e políticos", concorda Xi Chen, professor de Ciência Política na Universidade Texas-Pan American, em declarações à CNN.

Se eles fecharam o clube, elas não empurraram a porta. Uma sondagem realizada em 2010 pela Federação das Mulheres (um organismo estatal), revelou que 55% das inquiridas consideraram que o seu maior dever é cozinhar. "Não podemos pedir aos homens qualificados que se demitam para entrarem mulheres", disse Han Xiaoyun, delegada na Assembleia Nacional Popular (Parlamento, reúne-se uma vez por ano) que, por lei, deve ter 22% de mulheres (tem 21%).

De momento, 6% do Comité Central são mulheres. No bureau político de 25 elementos só há uma - Liu Yandong. No Comité Permanente, o órgãos mais poderoso da China, nunca esteve uma mulher (a mulher de Mao Tsetung pertenceu à liderança mas a estrutura partidária era diferente). Recentemente, uma mulher, Wu Yi, foi o rosto da China nas negociações para a entrada do país na Organização Mundial do Comércio, mas era ministra da Saúde quando eclodiu o surto de pneumonia atítica (SARS) e deixou de se falar dela.

Alguns analistas consideram que Liu Yandong - filha de um antigo alto dirigente e com laços familiares a Jiang Zemin (ex-Presidente) e Hu Jintao (Presidente cessante) - pode mudar a forma como a política chinesa olha para as mulheres. Outros são mais pessimistas: se for promovida, corre o risco de se tornar uma "arma de propaganda", uma curiosidade para o novo Governo exibir.

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