Putin substitui o ministro da Defesa, um poderoso aliado caído em desgraça

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Serdiukov era, desde 2007, o executor dos "grandiosos planos para a reforma do Exército" que Putin quer ver realizados pelo novo ministro ALEXANDER NATRUSKIN/reuters

Anatoli Serdiukov é suspeito de envolvimento num escândalo de corrupção, mas o seu afastamento poderá ter sido ditado por jogos de poder relacionados com a reforma das Forças Armadas

Vladimir Putin anunciou ontem, em directo nas televisões, a demissão do ministro da Defesa, suspeito de envolvimento num esquema de apropriação ilícita que terá custado milhões de rublos aos cofres russos. Com a demissão de Anatoli Serdiukov, Putin terá querido mostrar que pretende levar a sério a luta contra a corrupção num país onde os altos responsáveis são quase sempre intocáveis. Mas para os observadores, Serdiukov terá sido antes de mais vítima da guerra pelo controlo do estratégico sector militar.

"Tendo em conta a situação que rodeia o Ministério da Defesa, e para criar condições para uma investigação objectiva, decidi libertar Anatoli Serdiukov do cargo que ocupa", anunciou o Presidente, que surgiu perante as câmaras a receber o novo titular da pasta. Sergei Shoihu, actual governador da região de Moscovo, foi até recentemente ministro das Situações de Emergência e é, tal como o seu antecessor, um homem da confiança de Putin.

O Presidente incumbiu o novo ministro de prosseguir os "grandiosos planos para a reforma do Exército". Para Putin, a recuperação do poderio militar é uma questão vital para a afirmação da Rússia no mundo, tendo prometido gastar 550 mil milhões de euros na modernização das Forças Armadas até ao final da década.

Serdiukov era, desde 2007, o executor desta revolução, tendo merecido rasgados elogios do Presidente. Mas para tornar mais eficiente a máquina militar herdada da União Soviética, o ministro eliminou unidades inteiras e afastou mais de 100 mil oficiais, entrando em rota de colisão com os generais. Irritou também a indústria militar ao forçá-la a baixar os preços para novas encomendas. Eram também conhecidos os seus conflitos com outros dirigentes do Kremlin, entre eles o vice-primeiro-ministro, Dmitri Rogozin, pelo controlo do enorme orçamento da defesa.

Motivos que levam os observadores a questionar os reais motivos da sua demissão. "Na Rússia, onde o que importa acima de tudo são os acordos informais e as relações pessoais, temos de olhar para uma possível intriga por trás de tudo isto, algum tipo de conflito entre interesses muito importantes", disse ao New York Times Maria Lipman, investigadora do Carnegie Center de Moscovo, sublinhando que as suspeitas de corrupção são armas habituais de arremesso no país.

E o caso que envolve Serdiukov tem todos os contornos de intriga. O escândalo rebentou no mês passado quando os investigadores federais russos fizeram buscas à Oboronservis, uma empresa dependente do Ministério da Defesa e de que Serdiukov foi administrador. Segundo a imprensa, vários dos seus dirigentes terão escolhido alguns dos imóveis mais valiosos sob a sua alçada, colocando-os à venda por preços muito inferiores aos de mercado, alegadamente em benefício próprio.

A ligação do ministro ao caso tornou-se ainda mais óbvia depois de um site russo ter noticiado que, durante as buscas, Serdiukov foi surpreendido no apartamento de uma ex-dirigente da empresa onde foram apreendidos bens de elevado valor. A revelação do romance terá irritado o sogro de Serdiukov, Viktor Zubkov, presidente da empresa Gazprom e aliado de Putin, a quem o ministro devia a rápida ascensão política.

Por motivos políticos ou pessoais, tornou-se claro que o ministro caíra em desgraça. O Financial Times escreveu que é pouco provável que tenha sido o Presidente a pôr em marcha as investigações, o que não o impediu de tirar partido da situação. Serdiukov "fez demasiados inimigos", disse à AFP o analista Pavel Felgenhauer. "Putin decidiu fazer dele um exemplo na luta contra a corrupção" e enviar um sinal à elite política de que "ninguém é insubstituível", explicou.

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