Há que saudar a teimosia do realizador Francisco Manso e do argumentista António Torrado em trazer ao écrã pequenas histórias esquecidas da História portuguesa - A Ilha dos Escravos (2008), O Último Condenado à Morte (2008), Assalto ao Santa Maria (2010) - tanto como há a lamentar o amadorismo pobrezinho e a inépcia bem-intencionada com que têm desperdiçado essas histórias em maus filmes. Razão suficiente para reconhecer em O Cônsul de Bordéus, ficção em torno dos feitos do cônsul que durante a Segunda Guerra Mundial desobedeceu a Salazar, co-realizada com João Corrêa, obra mais bem acabada e melhor construída do que as anteriores - mas que, mesmo assim, prossegue no equívoco central de fazer cinema como se este não fosse mais do que televisão em grande écrã. Tudo em O Cônsul de Bordéus, desde o maniqueísmo hagiográfico de personagens sem espessura emocional (heróis sem mácula ou vilões sem redenção) à estrutura cansada em flashback (através de uma entrevista a um sobrevivente feita por uma Leonor Seixas que nunca teremos visto tão mal), passando por uma iluminação de estúdio de telenovela e um lado turístico-promocional francamente escusado, demonstra uma ideia televisiva do que deve ser um filme “para o grande público”. É tanto mais pena quanto a figura de Aristides de Sousa Mendes (e Vítor Norte, que o interpreta com garra) merecia melhor do que este melodrama pobrezinho e artificial.
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