Vamos apanhar medronhos

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Pedro Cunha

Agora que o tempo começa a pedir compotas, aqui está uma boa sugestão: plante medronhos no seu jardim e depois partilhe- -os com a família e amigos, em cru ou sob a forma de uma deliciosa geleia ou de uma saborosa tarte. Vai agradar aos estômagos, certamente, e ao mesmo tempo estará a ingerir frutos ricos em vitamina A e C

As tendências em jardinagem apontam para a construção de espaços onde se cultivam plantas ornamentais, aromáticas, fruteiras e hortícolas, geradores de ambientes de convívio social e de desfrute da natureza. A utilização de plantas da flora autóctone começa a ser já uma realidade, pelo que aqui apresentamos mais uma espécie com interesse para jardinagem, o medronheiro. Atendendo às suas características morfológicas, estéticas e ecológicas, apresenta grande potencialidade: como planta ornamental para jardins, como planta envasada e como folhagem de corte, para ornamentação de jarras e, em especial, para utilização em arranjos florais fúnebres, como coroas e palmas.

Os frutos são ricos em vitamina A e C, com valores semelhantes aos citrinos, caroteno e antioxidantes, podendo ser consumidos em cru, quando bem maduros, ou transformados em geleias e compotas.

É particularmente conhecido pela aguardente de medronho, preparada a partir dos frutos maduros, fortemente ligada às populações das áreas serranas do centro e sul de Portugal. Pela sua abundante floração, o medronheiro produz um mel monovarietal de elevada qualidade. A sua madeira é um excelente combustível e as folhas podem ser utilizadas como forragem ou juntamente com as cascas na indústria de curtumes.

A planta

O medronheiro (Arbutus unedo L.) pertence à família das Ericáceas, tal como as urzes (Erica sp.). É um arbusto ou árvore de pequeno porte, de copa arredondada e espessa. Tem folhas todo o ano, em forma de lança, de 5-10 cm de comprimento. Floresce de Outubro a Fevereiro, formando cachos pendentes de flores brancas ou rosadas. O fruto é redondo e verrugoso, com cerca de 15 a 20 mm, de coloração verde, depois amarela, até ficar vermelha com o amadurecimento, que ocorre no Outono (Setembro a Novembro) do ano seguinte. A presença simultânea de flores e frutos maduros (formados no ano anterior) introduz uma nota de cor no jardim, numa época em que este se apresenta mais monocromático, pela escassez de espécies em floração.

Como obter as plantas?

Os centros de jardinagem oferecem esta planta envasada e em diferentes tamanhos. Pode, no entanto, fazer as suas próprias plantas, a partir de sementes. Recolha os frutos maduros, esmague-os com a ajuda de um garfo e deixe-os secar à temperatura ambiente. Separe as sementes da polpa e guarde-as no frigorífico (estratificação fria entre 3-5°C, durante dois-três meses). Semeie no final do Inverno, directamente no solo ou em tabuleiros, transplantando as jovens plantas depois para o local definitivo, de preferência no início da Primavera.

Como dispor as plantas?

O medronheiro pode plantar-se isolado, em grupo ou na formação de sebes. A sua intensa floração e frutificação, por si só, atrai a atenção do observador, podendo assumir um papel de destaque como exemplar único, sobre um relvado ou uma zona ajardinada, ou mesmo cultivado em vaso ou floreira para ornamentação de um recanto, pátio ou varanda. Pode optar por plantá-lo em grupo, potenciando o seu efeito visual, ou utilizá-lo para formar sebes altas, fechadas, com a vantagem de se manterem bastante bonitas, com podas e regas pouco frequentes.

A presença de frutos comestíveis nesta planta torna-a atraente para pássaros (tordo, melro, pisco etc.), que, para além de acrescentarem sonoridade e vida ao espaço, contribuem para a redução do número de pragas na Primavera, através do equilíbrio ecológico. A presença de frutos permite ainda que o medronheiro seja opção para os "jardins comestíveis", nos quais se alia ao factor ornamental à possibilidade de produzir frutos para consumo em fresco, bolos e compotas.

Quando e onde plantar?

Preferencialmente na Primavera ou no Outono. Escolha zonas de semi-sombra, em solos soltos e profundos, ricos em matéria orgânica, com pH relativamente ácido (5,5-7,0) e bem drenados. Todavia, o medronheiro adapta-se a solos calcários, pobres em matéria orgânica e de textura média.

Que cuidados de manutenção?

Necessita de uma rega moderada e uma poda de formação, para conduzir a planta em forma de arbusto ou árvore. Se desejar conduzi-la em arbusto deve despontar os ramos, de modo a intensificar a rebentação da mesma. Se pretender conduzi-la em árvore, deve retirar os rebentos da base, de modo a formar um tronco único (repetindo regularmente esta operação). Deverá também fazer o corte periódico de ramos débeis, secos e mal formados. Deve realizar a poda na Primavera, quando já não há perigo de ocorrência de geadas. No ano da poda não há floração. O medronheiro é muito rústico, não só em relação às necessidades em água, mas também na resistência ao aparecimento de pragas e doenças. No entanto, durante a Primavera, pode sofrer ataques de piolhos na extremidade dos rebentos novos.

Deslumbre-se com a sua beleza, prove os seus frutos (poucos, pois podem causar indisposição), com os quais pode confeccionar uma bela tarte de medronho ou uma compota, não esquecendo também de provar o mel amargo do medronheiro.

Margarida Costa é engenheira hortofrutícola, arquitecta paisagista e da Associação Portuguesa de Horticultura (APH)

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