Os estudantes universitários consideram que alguns aspectos do desenvolvimento sexual da criança podem estar “mais em risco” se for adoptada por um casal homossexual, sobretudo se for um rapaz educado por duas mães, revela um estudo da Universidade do Porto.
O estudo “Homoparentalidades num contexto heteronormativo”, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, a que a agência Lusa teve acesso, procurou caracterizar as atitudes face à homoparentalidade junto de estudantes universitários de dois tipos de cursos, uns de carácter mais tecnológico e outros vocacionados para a intervenção social.
Foram abrangidos 1.288 finalistas de Psicologia, Serviço Social, Educação Social, Sociologia, Medicina, Enfermagem, Ensino Básico, Educação de Infância e Direito. O autor do estudo “Homoparentalidades num contexto heteronormativo” recordou os 40 anos de investigação que evidenciaram, sobretudo, semelhanças entre as práticas parentais de casais homossexuais e heterossexuais e índices idênticos de adaptação psicológica de crianças educadas nos dois contextos. Contudo, “apesar destas evidências, constata-se que o preconceito relativamente à homoparentalidade subsiste”, disse à Lusa o investigador Jorge Gato.
Apesar dos mais jovens e educados tenderem a apresentar atitudes mais positivas face aos homossexuais, alunos de cursos tecnológicos consideram que alguns aspectos da “identidade sexual normativa” de uma criança estão mais em risco se esta for adoptada por uma família homoparental. Uma percepção visível sobretudo nos homens, segundo o investigador: ”Os inquiridos mostraram-se mais preocupados com a possibilidade de um rapaz educado por duas mães poder apresentar mais dificuldades na aquisição de comportamentos tradicionalmente masculinos”. “Os homens têm atitudes mais negativas em relação aos homossexuais, por considerarem que a identidade heterossexual está indissociavelmente ligada à sua identidade enquanto homens”, explicou.
Homossexuais "mais competentes"
Já os universitários de cursos de intervenção social consideram que os casais homossexuais são “mais competentes” nalgumas dimensões do que os heterossexuais. Por exemplo, consideram que “as crianças têm menos probabilidade de ser abusadas sexualmente nas famílias de lésbicas e gays mas, por outro lado, acham que estas famílias têm menor capacidade de transmitir valores às crianças”.
Contudo, numa situação hipotética, os participantes acabaram por atribuir, com maior probabilidade, a custódia de uma criança a uma família heteroparental. “Podendo ter origem numa antecipação de discriminação por parte da sociedade, este tipo de posicionamento tem implicações sociais e éticas importantes”, disse, considerando que “a expectativa de discriminação deve constituir-se como um estímulo para a sua erradicação e não como um factor de (dupla) discriminação de potenciais mães lésbicas e pais gay”.
“É importante, sobretudo, estas pessoas inquiridas fazerem um exame de consciência acerca do que é que neles existe de pessoal e valorativo que pode estar a afetar a forma como pensam acerca destas questões”, mas também é fundamental formação académica, considerou. “A homoparentalidade em si não é problemática, nem do lado dos pais, nem do lado das crianças, mas não me parece que esta informação esteja a ser suficientemente transmitida” nas faculdades, acrescentou o investigador.
O estudo sublinha que a crença de que a orientação sexual de mães/pais influencia a identidade sexual dos filhos “poderá ser um dos factores subjacentes à apreensão que a adopção por casais do mesmo sexo ainda suscita em Portugal”.