Disputa de São Paulo aquece segunda volta das municipais brasileiras
Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores, é agora o favorito à prefeitura paulista, com 49% nas sondagens, 13 pontos à frente do social-democrata José Serra
Cinquenta grandes cidades do Brasil, entre as quais 17 capitais de estado, voltam hoje às urnas para escolher prefeitos e vereadores. A grande disputa desta segunda volta é a que travam Fernando Haddad, do PT (Partido dos Trabalhadores), e José Serra, do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), candidatos por São Paulo. Depois do fenómeno Celso Russomanno ter ficado para trás na primeira volta, Haddad é agora o favorito, com 49% nas intenções de voto, a 13 pontos de distância de Serra.
As duas campanhas têm protagonizado um duelo crescente. Apareceram pela cidade cartazes com a frase "Serra é cúmplice do extermínio da juventude negra e pobre" e uma fotomontagem do candidato a segurar uma arma. A campanha de Serra responsabilizou Haddad, emitindo uma nota em que lhe chama "delinquente": "Quem quer ser prefeito de São Paulo não pode se apresentar como um delinquente que não respeita as leis municipais que conservam a cidade limpa."
A campanha de Haddad negou a autoria dos cartazes e respondeu que Serra age com "desespero".Um falso site de Haddad também motivou embates, com a campanha do "pêtista" a acusar a campanha do rival.
No último debate entre ambos, sexta-feira, na Rede Globo, Serra usou o escândalo do Mensalão sempre que possível para atacar Haddad. Em plena fase final do julgamento do maior esquema de corrupção da política brasileira, com anúncios de condenações e penas para ex-responsáveis do PT, o Mensalão tem sido uma arma para o PSDB contra os candidatos "pêtistas", a começar por Haddad, que foi uma escolha pessoal do ex-Presidente Lula para a corrida em São Paulo.
Ao longo do debate, Serra tentou colar Haddad ao Mensalão, enquanto Haddad tentou lembrar um outro esquema de corrupção que envolve o PSDB, conhecido como Mensalão mineiro. Para além disso, procurou ligar Serra à actual gestão do prefeito Gilberto Kassab (PSDB), criticando-a.
Durante a primeira volta, quando o apresentador de televisão Celso Russomanno liderava destacado nas sondagens, e Haddad não saía do terceiro lugar, a aposta de Lula em Haddad parecia vir a tornar-se uma derrota política para o ex-Presidente. Mas Lula deu o tudo por tudo na recta final, e a espectacular reviravolta em cima das urnas mostrou mais uma vez o capital político do ex-Presidente, apesar do julgamento do Mensalão, que condenou o seu braço direito e ex-ministro José Dirceu.
Se as sondagens se provarem certas, Haddad será mesmo prefeito da maior cidade do Brasil (e da América do Sul), como Lula quis.
Outros duelos
Salvador, Belém, Manaus, Curitiba, Fortaleza ou São Luís são exemplos de outras capitais com duelos por disputar neste domingo.
Um dos mais interessantes é o de Salvador, onde o "pêtista" Nelson Pelegrino concorre com ACM Neto, candidato pelo DEM (Democratas, partido de centro-direita).
ACM Neto, como o próprio nome indica, é neto de Antônio Carlos Magalhães, o polémico governador de quem se dizia ser dono da Bahia, a começar pelo controlo da imprensa local. Um dos mais célebres nativos baianos, Caetano Veloso (que vota no Rio de Janeiro, cidade onde há muito vive, e onde apoiou Marcelo Freixo, derrotado), disse durante um show com Gilberto Gil, em Brasília, na última quarta-feira, referindo-se a ACM Neto: "Eu prefiro que ele ganhe logo."
O candidato comemorou, e a esquerda caiu em cima do músico. Mas em entrevista à Folha de São Paulo, Caetano ressalvou: "Para ter um voto meu, ele precisaria declarar que o aeroporto de Salvador deve retirar o nome do seu tio. Detesto que ele se chame Aeroporto Luís Eduardo Magalhães."
O caso de ACM Neto não é o único exemplo de como a política brasileira ainda é muito matéria de famílias. Aécio Neves, neto de Tancredo Neves, é senador por Minas Gerais; Brizola Neto, neto de Leonel Brizola, é ministro em Brasília; Roseanna Sarney, filha de José Sarney, é governadora do Maranhão.