Estou há meses para escrever essas linhas. E por que não escrevo? Por ser um paulistano abilolado com o tempo, com o stress, com o trânsito? Talvez, mas antes de tudo deve ser porque eu não priorizei isso. Embora entusiasta do P3 desde que conheci o projeto, pesa contra mim o fato de me perder na organização do meu tempo.
Sou um típico morador de São Paulo, a maior cidade da América Latina com 11,3 milhões de habitantes. Nesta frase entra mais um monte de números que mostram o quão colossal é meu arredor. Há estímulos sem parar, e não são majoritariamente agradáveis. Sair de casa significa, em geral, encarar longos trajetos até o trabalho.
Os percursos em si podem nem ser tão longos. Quando trabalhava na (maldita, talvez) Vila Olímpia, a 7,5 km da minha casa demorava entre 1 hora e 1h20 para chegar, de ônibus. Já trabalhei na – hoje famosa por conta do futuro estádio Arena Corinthians – região de Itaquera e de metrô levava a mesma hora e vinte minutos para percorrer 35 km. Hoje estou a 18,7 km e demoro uma hora deste computador aqui até o meu do trabalho.
Você acha que é muito? Pois saiba que a maior parte dos paulistanos demora mais de uma hora da residência ao trabalho e vice versa. Ouvi uma notícia (assim, sem citar a fonte mesmo) de que o paulistano passa, em média, um mês por ano no trânsito. Quem é daqui ou já tentou ir do aeroporto de Guarulhos para a Avenida Paulista sabe que isso não é nenhum exagero.
Claro que todos deveriam preferir o transporte publico, certo? Errado. Aqui a onda — há uns 30 ou 40 anos, talvez — é ter carro. Cada um no seu, claro. Parado num semáforo é possível contar nos dedos os veículos que passam com mais de uma pessoa dentro. Toneladas de lata com mais de três metros de comprimento vão ocupando as ruas.
Não que o cidadão não tenha o direito de trabalhar, ganhar o dinheiro dele e fazer o que quiser. Ele não só tem o direito como o deve fazer. A questão é que parece não caber mais carro nesta cidade. Como levar isso adiante?
Nem entrei aqui na questão das bicicletas, que começam a virar moda com as ciclofaixas de domingos e feriados. Explico: são pistas da esquerda de vias movimentadas que ficam isoladas por cones durante estes dias, das 7 às 16 horas. É uma forma incrível de conectar um parque a outro da cidade.
O primeiro trecho ligava o Parque Ibirapuera ao Parque do Povo e ao Villa Lobos, num total de uns 20 quilômetros (que a prefeitura safadamente comunicava serem 40, ao contabilizar os de ida e os de volta!) e pegou. A cada domingo via aumentar o número de ciclistas, adultos e crianças usando a faixa e — mais que isso — percebendo como é gostoso ocupar a cidade e sentir um vento (ainda que poluído) no rosto.
Estes dias tem chovido e esfriado um pouco. O ar seco e a poluição parecem não incomodar tanto. E a perspectiva é boa, com os novos quilômetros de ciclofaixa que devem ligar o centro até o parque do Ibirapuera, passando pela Avenida Paulista (nossa Champs Elysées mambembe) saiam antes de o prefeito GIlberto Kassab entregar a cadeira. E seja lá quem for o sucessor (no dia 28/10 elegeremos em segundo turno ou Fernando Haddad, do PT, ou José Serra, do PSDB), espero que tenha peito para investir em ciclovias permanentes e transporte público que faça jus a uma cidade de 11,3 milhões de habitantes. Oxalá.
PS: deixei a pressa de lado, ainda que por alguns minutos.