A grande viagem de Fausto leva agora as Montanhas Azuis aos coliseus

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Fausto na Casa de Música do Porto, em Maio de 2010: o novo disco terá por palco os coliseus, em dois concertos únicos NFACTOS/Fernando Veludo/Arquivo

Onze meses depois do seu lançamento, o disco Em Busca das Montanhas Azuis chega aos coliseus. Hoje em Lisboa e dia 27 no Porto, Fausto Bordalo Dias mostra em palco a última etapa da trilogia das Descobertas

A culpa é de um livro. Na sua edição primeira surgiu como Peregrinaçam, assinado por Fernam Mendez Pinto. Mas quando Fausto Bordalo Dias o descobriu e avidamente leu, já era conhecido pela Peregrinação de Fernão Mendes Pinto. Esse livro levou-o a um disco e esse disco levou-o a mais livros e a outro disco que, fatalmente, como se impulsionado por misterioso destino, viria a abrir as portas a um terceiro. Assim se reuniram, num espaço de quatro décadas, três discos duplos que retratam a epopeia aventurosa dos pioneiros portugueses das Descobertas, dos sonhadores e desbravadores de novos mundos: Por Este Rio Acima (1982), Crónicas da Terra Ardente (1994) e Em Busca das Montanhas Azuis (2011).

Fausto Bordalo Dias, ele próprio participante na diáspora (viveu em África), percorreu esse caminho com um trabalho de minúcia, quer a nível das letras, inspiradas em relatos de época (Fernão Mendes Pinto, a História Trágico-Marítima, Cadamosto, Diogo Gomes de Azurara, Conde de Ficalho, os pombeiros...) quer a nível das músicas, onde foram sempre privilegiados os sons e ritmos portugueses. Como Fausto diz, "o ponto de observação é o do português, o do europeu, que ali chega."

E chega onde, neste disco que agora é apresentado ao vivo nos coliseus de Lisboa (hoje às 22h) e do Porto (dia 27 às 22h)? Depois do mar e da aproximação à terra, retratados nos discos anteriores, este fala da aventura africana terra dentro. "Pela primeira vez", diz Fausto, "compus na sequência das canções. E segui pelo tempo, embora geograficamente a viagem seja descontínua. Mas procurei isso: contar a história música a música". E a história vai do maravilhamento inicial da visão das novas paragens até à figura do explorador Silva Porto, que Fausto considera "o último sertanejo, o último dos românticos". Até aos 18 anos, quando vivia em Angola, Fausto visitava a casa onde Silva Porto viveu, na cidade que herdou o seu nome. "Rodeada de laranjas (em árabe, Portugal era laranja), porque era a forma de ele se rodear da sua Pátria, ele era um patriota com grande rigor moral." Mas nas canções há muitos mais personagens dessa aventurosa saga, como Pêro de Covilhã, a quem Fausto chama "o James Bond de D. João II".

No palco dos coliseus, as canções surgirão como no disco: "Tocaremos os temas na sequência original, mas dois vão ter de ficar de parte senão o espectáculo ficava muito longo", diz Fausto, entre ensaios. Dos discos anteriores só serão tocados dois temas, como ele explicou no Facebook, ao pedir (fê-lo no dia 7 deste mês) para que fosse o público a escolher a última canção: "Vamos executar o reportório deste álbum, terminando com um tema do Crónicas da Terra Ardente - Na Ponta do Cabo. Quero encerrar o concerto com um tema do início da trilogia, Por Este Rio Acima. Querem dar-me alguma sugestão sobre qual possa ser o tema?" Não faltaram sugestões, dezenas delas, mas curiosamente a canção mais indicada pelos "seguidores" de Fausto no Facebook era, pelo menos até ontem à tarde, Lembra-me um sonho lindo (que batia, a razoável distância, canções como Navegar, navegar). "Se houver encore, deixamos que os aplausos se instalem e depois vamos tocar aquilo que o Facebook ditar."

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