Somos todos Carries

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O extraordinário êxito de Homeland, cuja segunda série já vai bem embalada, terá muitas explicações, mas há uma que ainda não vi explorada.

Acho que é muito fácil uma pessoa identificar-se com Carrie Mathison, a espia interpretada por Claire Danes. Porque tem razão. O mundo inteiro, a começar pelos patrões da CIA, acha que não tem. Ela própria já começou a duvidar de si mesma.

Não é esta a maneira como quase todos nos vemos? Ela pode ter pancada, pode fazer disparates de vez em quando mas, no trabalho dela, não poderia ser mais competente. E, sobretudo, tem sempre razão, apesar de não poder provar que tem.

Mathison é uma protagonista universal: é a pessoa a quem não dão o devido valor. Farta-se de trabalhar, anda sempre num stress, sacrifica a vida pessoal e, mesmo assim, duvidam dela e não fazem o que ela quer.

É ou não é tal e qual como cada um de nós? No fim da primeira série, quando é submetida a electrochoques, poderia haver melhor ilustração do trabalho a dar connosco em doidos?

Ela já não começou boa mas, por causa de ter razão e ninguém saber que tem, vai de torcer o manípulo do voltímetro. Os únicos que sabem que ela tem razão são os maus. Esta situação existencial também não nos é estranha: os nossos inimigos e concorrentes sabem que somos melhores do que eles. Só que não podem dizer.

Nesta segunda série até o elemento fadista apareceu: Carrie pensa que havia uma altura em que era boa mas já não é. Ai, Mouraria.

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