Organizar manifestações pode prejudicar quem procura emprego

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Protestantes arranjam formas de não serem reconhecidos por potenciais empregadores Foto: Nuno Ferreira Santos

Tiago L. é um jovem de 29 anos que, como muitos outros, está desempregado. Tiago Castelhano é um jovem que dá a cara por manifestações contra o Governo. Dois nomes diferentes para a mesma pessoa, uma que quer ter um emprego e outra que quer contribuir para a democracia.

Tiago integra a Plataforma 15 de Outubro, que promoveu a manifestação nesse dia em 2011 e que organiza, nesta segunda-feira, o “Cerco a São Bento”. Não tem medo de dar a cara pelo povo, mas receia ser prejudicado na hora de ser contratado. Já foi a muitas entrevistas de emprego e este mês recebeu o último subsídio de desemprego.

O jovem assegura que, por várias vezes, foi rejeitado por empresas que pesquisaram “Tiago Castelhano” na Internet. Por isso, agora assina Tiago L. e procura alternar com outros nomes. Não quer parar de protestar, mas quer ainda mais ter uma vida estável para poder criar um filho, que, neste momento, é impensável.

Tiago L. tem já um longo historial de militância política. Entrou cedo para o Bloco de Esquerda, mas abandonou o partido quando este decidiu apoiar Manuel Alegre à Presidência da República. Foi a gota de água numa estratégia em que deixou de se rever. Hoje é um dos primeiros subscritores da petição entregue no Tribunal Constitucional com vista à criação de um novo partido político, o Movimento Alternativa Socialista (MAS).

Já em criança ia a manifestações com os pais, que lhe ensinaram que “a democracia se faz na rua”. Tiago acredita que quando as pessoas se manifestam “as medidas são derrubadas” e, por isso, não compreende “como é que o Governo ainda não caiu”. “Há pessoas que estão a morrer devido à política do Governo”, sublinha.

Para contestar essas políticas, a Plataforma 15 de Outubro marcou para esta segunda-feira um cerco a São Bento, marcando a entrega do Orçamento de Estado. Para Tiago, a maior diferença nas manifestações tradicionais e nas actuais está “na colocação em causa do sistema”, pois “as pessoas deixaram de acreditar”.

Tiago assegura que o segredo do sucesso das manifestações organizadas por movimentos está na liberdade concedida às pessoas, pois “não são impostos gritos de guerra” e cada um “expressa-se como quer”. Por outro lado, a nova onda de manifestações “rompe com as organizações tradicionais e chama mais gente”. Neste momento, as pessoas manifestam-se porque “sentem que estão a ser roubadas”, afirma. Ele também o sente, e ainda que se sinta prejudicado por isso, não deixa de protestar.

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