Enquanto dormimos, a Nova Zelândia acontece

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O pavilhão da Nova Zelândia conta a história do país através da literatura Anett Weirauch

A Feira de Frankfurt, que teve a Nova Zelândia como país convidado, terminou ontem. O Brasil será o homenageado do próximo ano.

A Feira do Livro de Frankfurt é uma oportunidade para os maoris se darem a conhecer e à sua forma de contar histórias, mas, na comitiva de 60 escritores que veio a Frankfurt por causa da Nova Zelândia ser o país convidado deste ano, a maioria é de língua inglesa. Entre eles o escritor Lloyd Jones, que ficou conhecido há anos por estar na "short-list" do Prémio Man Booker com o romance Mr. Pip (Estampa). Ontem, o escritor disse acreditar que o seu romance fez sucesso porque "conta uma história que valoriza a palavra". Está a ser feita uma adaptação ao cinema, com o actor britânico Hugh Laurie.

Quando se pensa na literatura deste país, pensa-se na obra de uma série de mulheres: em Katherine Mansfield, e nos seus contos (1888-1923); na romancista e poetisa Janet Frame (1924-2004), que ficou mundialmente conhecida quando An Angel at My Table foi adaptado ao cinema por Jane Campion; em Sylvia Ashton Warner (1908-1984), que ensinava crianças maoris, ou na escritora de literatura infantil Margaret Mahy (1936-2012), que morreu no Verão passado.

Nos últimos anos a Nova Zelândia tornou-se um país de escritores, leitores e editores. A actividade cultural mais popular é a leitura, seguida de visitas a bibliotecas. A indústria editorial cresceu e publica 2000 livros por ano, apareceram cursos de escrita criativa, prémios literários e 44% dos adultos compram um livro por ano.

Noutros tempos, a escritora Katherine Mansfield descreveu-o como "um pequeno país sem história". Na feira, os neozelandeses quiseram mostrar que essa imagem não é verdadeira. "Temos mais história do que ela foi capaz de reconhecer e os nossos romancistas começaram a prestar-lhe atenção", disse o poeta Bill Manhire. Embora reconheça que só quando um neozelandês sai do país é que se apercebe de que o país desaparece. "A Nova Zelândia nunca aparece nas notícias ou nos jornais", disse.

A Nova Zelândia é aquele país em que os contos de fadas não terminam como em toda a parte com a frase: "E viveram felizes para todo o sempre". Naquele país terminam com duas frases: "Não viveram felizes para sempre. Mas tentaram."

"Enquanto Dormias" é o slogan que escolheram para promover a sua literatura na feira. A Europa dorme quando a Nova Zelândia está acordada. Quando se entra no pavilhão de 2300 m2 do país homenageado deste ano, tudo está virado para a palavra maori Manaakitanga, que significa respeito pelos outros e hospitalidade.

No pavilhão, quase na penumbra, criaram um lago e montaram gigantescos ecrãs em que vai sendo contada a história do país através da literatura. Vê-se a imagem de um homem e de uma mulher a fazerem amor e uma explosão. Depois, um homem tatuado, em trajes maori, explica que é o momento da separação do céu e da terra. "Triste, o céu começa a chorar, e isso traz a chuva." Começa a chover no lago e um actor, que já tinha estado a ler deitado num sofá no meio do lago, fica todo molhado.

Ontem aconteceu também a cerimónia de passagem do bastão de país convidado, da Nova Zelândia para o Brasil, que será o homenageado do próximo ano. A poeta neozelandesa Hinemoana Baker conversou com o romancista brasileiro Milton Hatoun, antes do director da Biblioteca Nacional Brasileira, Galeno Amorim, receber o bastão. O slogan para 2013 é Brazil in Every Word, Brasil em todas as palavras, para mostrar um país "cheio de vozes e em permanente recriação cultural".

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