"Medidas do Governo são políticas e não cabe à Justiça a sua apreciação"

Foto
Na manhã deste domingo, a Assembleia Nacional de Filiados elegeu os estatutos DR

A afirmação foi feita horas depois que Mouraz Lopes, presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP), anunciou que, caso a proposta conhecida do Governo para o Orçamento do Estado de 2013 seja aprovada, vai pedir a fiscalização da sua constitucionalidade” porque “ataca de modo feroz” os portugueses, violando “o princípio da confiança dos portugueses no sistema fiscal”.

Marinho Pinto falava aos jornalistas à margem do encerramento de um encontro das delegações da Ordem dos Advogados para debater os “Direitos e Deveres dos Advogados no Século XXI”, que decorreu em Aveiro.

O bastonário da Ordem dos Advogados afirmou que “a questão da constitucionalidade é uma questão jurídica e o Orçamento e as medidas de austeridade que o Governo tem vindo a tomar” são políticas.

“São medidas muito duras, mas penso que não violam a Constituição”, disse, afirmando compreender que os magistrados “queiram levar isso para as instâncias onde são eles que decidem”.

Isto “desvirtua e desprestigia a Justiça, por muita popularidade” que lhe possa dar certas decisões, observou.

“É uma forma de serem os tribunais a ter a última palavra sobre matérias políticas. Os poderes são diferentes e há divisão e separação de poderes. Vivemos num País onde por tudo e por nada se põe uma providência cautelar nos tribunais para contestar decisões políticas e isso degrada a Justiça e os tribunais”, criticou.

Para o bastonário da Ordem dos Advogados, o que está em causa nas medidas de austeridade “é uma questão de imoralidade que ofende os valores da República” e se deve continuar a exercer funções políticas “quem declaradamente mentiu e cumpre um programa oposto aquele com que se apresentou” ao eleitorado.

“É uma questão de dignificarmos a política e exigirmos verdade e honestidade dos políticos. Eu convido os portugueses a reverem o debate entre Pedro Passos Coelho e José Sócrates para avaliarem os políticos portugueses”, declarou.

“As questões jurídicas têm outras razões e outro tipo de ponderações que não essas”, reafirmou.

Salvaguardada a natureza política da questão, Marinho Pinto não deixou de classificar o que o Governo está a fazer como “um crime de lesa pátria” por incrementar sacrifícios às famílias em vez de os procurar aliviar, devido a razões ideológicas que “omitiu” na campanha eleitoral.

“Se uma pessoa pode pagar uma dívida em dez anos porque é que vai pagar em um? É muito mais sacrifício. Porquê esta pressa? Porque é que este Governo vai além da ‘troika’? Devia estar a reclamar mais prazo para pagar as dívidas, em vez de estar a concentrar o pagamento com sacrifícios insuportáveis para as famílias portuguesas e nem imagina a revolta que está instalada individualmente. Percebe-se agora a violência de algumas revoluções de que a História nos dá exemplo: é por medidas destas que humilham o povo e o sacrificam para além dos limites, sem sentido”, disse.