Em plena tormenta, um Nobel da Paz para a União Europeia
A decisão, tomada por unanimidade, foi justificada com o contributo que a União Europeia deu para a paz na Europa, para a reconciliação entre os países e a consolidação da democracia e da paz, disse o presidente do Comité Nobel, Thorbjoern Jagland, que é também secretário-geral do Conselho da Europa e um defensor da entrada da Noruega na UE.
“Estamos profundamente sensibilizados e honrados pelo facto de a União Europeia ter recebido o Nobel da Paz. A reconciliação é a essência da UE. É um projecto único que substituiu a guerra pela paz, o ódio pela solidariedade", disse o presidente do Parlamento europeu, o alemão Martin Schulz, que foi o primeiro a reagir à distinção.
O Comité Nobel mencionou o papel da União Europeia como instituição agregadora do continente europeu após a II Guerra Mundial. Foram também mencionadas as adesões, na década de 1980, de Portugal, Espanha e Grécia, após o desmoronar das respectivas ditaduras.
"A UE atravessa graves dificuldades económicas e uma considerável convulsão social. O Comité do Nobel deseja centrar-se no que considera ser o resultado mais importante da UE: o sucesso da luta pela paz e pela reconciliação e pela democraia e direitos humanos. O trabalho da UE representa a fraternidade entre as nações o que equivale a uma forma de 'congresso de paz', o que corresponde ao critério que Alfred Nobel deixou no seu testamento em 1895", disse Jagland.
Jacques Delors, antigo presidente da Comissão Europeia, explicou que este prémio é "uma mensagem moral e política". "Moral no sentido em que saúda os países que, reconhecendo a sua atitude do passado, fizeram a paz entre eles. Política num momento em que há muitas críticas, muitas estatísticas, prognósticos desfavoráveis à UE", disse. Apesar de os últimos anos terem sido extremamente difíceis - prosseguiu Delors -, o prémio mostra que os valores da solidariedade e da confiança podem ajudar a fazer um mundo melhor".
O antigo chanceler alemão, Gerhard Schroeder, considerou a decisão do Comité Novel "acertada" e disse que o prémio é um "encorajamento" aos europeus. "Surge na altura certa para [se defender] a unidade e se apoiar os poderes que lutam por uma maior integração". A actual chanceler, Angela Merkel disse que se trata d eum prémio que "encoraja" a Europa a manter um projecto que pacifica o continente.
Uma voz dissonante foi a de Nigel Farage, líder do Partido Independente da Grã-Bretanha: "Isto mostra que os noruegueses têm sentido de humor. A União Europeia só pode estar a receber um prémio de paz já que se houve coisa que não criou foi prosperidade. (...) Nos últimos dois anos, a UE criou grande animosidade entre os povos do SUl e do Norte da Europa".
O Nobel tem um valor monetário de 1.2 milhões de dólares (cerca de 930 mil euros) e será entregue em Oslo, a capital norueguesa, no dia 10 de Dezembro. Poderá ser recebido por uma destas pessoas, ou pelo conjunto: Durão Barroso (português, presidente da Comissão Europeia), Herman Van Rompuy (belga, presidente do Conselho Europeu) ou Martin Schulz.
Entre 1901 e 2011 foram distinguidos com este prémio 124 pessoas, das quais 15 mulheres. De acordo com o testamento de Alfred Nobel, que deixou parte significativa da sua fortuna para este fim, o Prémio Nobel da Paz deverá ser atribuído “à pessoa que tiver feito mais ou melhor pela união entre nações, abolição ou redução de exércitos e pela promoção da paz”.
A UE é uma união política e económica e a sua origem está na Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. Desta nasceu a Comunidade Económica Europeia, formados por seis países em 1951, que se transformaria depois em União Europeia.
Há 50 anos que o segredo sobre o vencedor deste prémio não era violado, mas 2012 fica para a História como um ano em que houve uma fuga de informação. Uma hora antes do anúncio oficial, a agência britânica Reuters já dava conta do vencedor, citando informações emitidas pela televisão norueguesa NRK.
O Nobel da Paz é o quinto prémio atribuído nesta semana, depois dos galardões relativos à Química, Física, Medicina e Literatura.
Notícia actualizada às 11h