Nada se perde, tudo se transforma - e não deixa de ser surpreendente como a filmagem por Oliveira da peça de Raul Brandão pareça ter tanto a ver com os tempos de crise que vivemos, ou não dependesse a sua história da dicotomia entre um pai “pobrezinho mas honrado” e um filho que não se conforma com esse destino. O Gebo e a Sombra ressoa do princípio ao fim com ecos dos nossos tempos, tanto mais surpreendente quanto o cinema de Oliveira continua a desenvolver-se num sistema e num universo criativo que parece vir de outro tempo, e dessa tensão (magistralmente fotografada) por Renato Berta sai provavelmente o melhor Oliveira em muitos anos. Que perde por ter Ricardo Trepa no papel do filho, com o actor, apesar dos seus melhores esforços, a não conseguir estar à altura das performances magistrais de Michael Lonsdale e Claudia Cardinale e de uma Leonor Silveira como nunca a vimos.
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