Ei-lo de volta, o tema da “mulher entediada com a vida doméstica e familiar que parte à redescoberta da sua sexualidade”. O tédio da vida doméstica é dado no único pormenor de subtileza em todo o filme de Malgorzata Szumowska: a porta do frigorífico que não fecha bem. No resto, acotovelam-se a agenda “temática” e um oportunismo de soft porno. A mulher é Binoche, jornalista da Elle a escrever um artigo sobre estudantes prostitutas. Entrevista duas e as entrevistas abrem a porta para várias cenas de sexo, nem sempre muito ortodoxo. A ideia é que não se perceba muito bem se as cenas são uma “descrição” (o relato feito pelas miúdas) ou apenas o fantasioso produto da imaginação de Binoche. Podia ser só desajeitado, incapaz de convocar uma real severidade sociológica (como os “inquéritos” de Godard sobre a prostituição, nos anos 60) ou de lidar, tipo Belle de Jour, com o potencial subversivo da fantasia, aqui anulado pelo grafismo da sua exposição (é a “crueza”...). Mas, pior, é frequentemente ridículo - e tem a cena mais patética vista este ano, um jantar em que Binoche fantasia estar com os clientes das prostitutas, que incluem um tipo todo nu a tocar guitarra, e uma cançoneta que todos cantarolam em coro. Mesmo assim, nem para cult movie serve.
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