Nuno Grande, o médico que dizia que se o SNS cumprir o orçamento não funciona
Fundador do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar faleceu ontem no Porto aos 80 anos
O médico e professor Nuno Grande morreu ontem no Porto, aos 80 anos, vítima de complicações cardiovasculares e neurológicas. Fundador do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (Porto), Nuno Grande gostava de se descrever como "um médico de província numa grande cidade" (era natural de Vila Real) e não se cansava de repetir que a humanização da medicina estava nas mãos de novos "João Semana".
Licenciado em Medicina e doutorado na Universidade do Porto, com 19 valores, foi professor de Anatomia, mas também seguiu doentes como clínico geral no sector privado durante duas décadas. Foi, aliás, um grande impulsionador da medicina familiar e do programa que permitiu, com o apoio do governo norueguês, construir vários centros de saúde no distrito de Vila Real, recorda António Sousa Pereira, actual director do ICBAS, que o descreve como a "força motriz" e o "ideólogo" do ICBAS.
Na década de 60, Nuno Grande partiu para Angola como militar, de onde regressou em 1974. Para além da actividade docente e de investigação, dedicou uma parte da sua vida a uma intensa intervenção cívica e cultural. Em entrevista ao Tempo Medicina, em 2007, chegou a defender que, se o Serviço Nacional de Saúde (SNS) cumprir o orçamento, não funciona. "Para ser bom [o SNS], tem de dar prejuízo, ou seja, tem de dar resposta. E dar resposta às necessidades pode significar um custo cada vez maior", justificou.
Entre os múltiplos cargos que desempenhou, foi mandatário nacional da candidatura de Maria de Lourdes Pintasilgo à Presidência da República, em 1985, pró-reitor da Universidade do Porto para os Assuntos Sociais e membro do Painel de Conselheiros do Comité Científico da NATO desde 1989. O funeral realiza-se amanhã às 11h00 na Igreja do Foco (Boavista), partindo depois para o cemitério de Matosinhos.
Alexandra Campos