Morar em Chicago: a experiência de Miguel Bessa, um engenheiro mecânico de 25 anos
Miguel Bessa vive em Chicago há um ano onde está a frequentar um Doutoramento. Apesar de estar a gostar da aventura espera regressar a Portugal, isto porque quer contribuir com o seu conhecimento para o desenvolvimento do país
Quem nunca ouvi falar de Chicago? É o segundo centro industrial e financeiro dos Estados Unidos da América (EUA) e uma cidade associada a algumas das personagens mais marcantes da sua história, como Al Capone, Michael Jordan ou Barack Obama. Ou seja, uma das mais carismáticas dos EUA. E Miguel Bessa está a desfrutar do que esta tem para oferecer.
Podemos considerar o Miguel Bessa como um talento da engenharia. Não só porque terminou o curso de engenharia mecânica da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto com 18 valores, mas também por ter finalizado a parte escolar do Doutoramento na Universidade de Northwestern com a nota máxima. E porquê esta universidade? “Depois de terminar o curso, foi-me atribuída uma bolsa Fulbright para ir fazer o Doutoramento nos EUA. Tive a felicidade de ter sido admitido em Stanford, Columbia, Brown, Georgia Tech e Northwestern. Escolhi a última para ser orientado pelos professores Ted Belytshcko e Wing Kam Liu que estão no ranking dos 250 investigadores mais citados no mundo”, revela.
Sobre o seu trabalho científico Miguel Bessa explica que está a fazer “investigação em métodos computacionais para previsão do comportamento de estruturas. De forma simples, o objectivo é conseguir prever o comportamento de estruturas complexas (como o casco de um submarino, as asas de um avião ou um foguete de uma nave espacial) usando informação atómica e fazendo simulações no computador. Trata-se de uma nova abordagem no projecto de estruturas porque representa uma tentativa de resolver ao mesmo tempo dois problemas muito importantes em engenharia: prever, através do computador, quais são os limites de qualquer estrutura (por exemplo, prevenindo a queda de aviões por fractura numa asa) e projectar novos materiais que tenham melhores propriedades (mais leves, mais resistentes, etc)”.
Uma cidade de contrastes
Miguel Bessa escolheu Chicago não porque conhecesse a cidade mas, e como referiu anteriormente, para poder colaborar com professores e investigadores especialistas na área onde desenvolve a sua investigação. Mas a verdade é que esta tem superado largamente as suas expectativas. Descreve Chicago como uma cidade “fascinante, imponente com o seu fantástico centro financeiro, composto por alguns dos edifícios mais altos do mundo. No entanto, está repleta de espaços verdes assim que se sai do pequeno centro, tendo muitas zonas residenciais calmas. É uma cidade onde se sente que se pode fazer qualquer coisa, desde comer em restaurantes fantásticos, visitar museus de classe mundial ou ver um jogo de basquetebol dos Chicago Bulls”. Porém tem um lado menos positivo. “Há um contraste chocante entre o sul e o norte da cidade. O sul de Chicago é um dos locais mais violentos nos EUA, onde a pobreza é brutalmente visível. É de facto impressionante como uma cidade pode ter ao mesmo tempo o melhor e o pior”, salienta.
O círculo de amigos de Miguel Bessa é constituído “exclusivamente por estrangeiros", com excepção da namorada que é portuguesa. E talvez por isso tenha conseguido facilmente assimilar as diferenças entre os portugueses e norte-americanos. “É uma sociedade muito dinâmica, que se orgulha muito de fomentar o progresso. Sem dúvida extremamente consumista. E têm algumas características muito interessantes: há um sentimento generalizado de não haver desculpas. O insucesso é sempre fruto da ausência de trabalho. O infortúnio não existe. Talvez por isso seja notório que não existe um sentimento generalizado de solidariedade”, esclarece.
Ao falarmos de Portugal, Miguel Bessa refere de imediato que ficou “genuinamente surpreendido com a qualidade do nosso ensino. Posso garantir-vos que os bons alunos de Portugal são bons alunos nas melhores universidades americanas e provavelmente em qualquer parte do mundo”. Está a gostar da experiência e sente-se integrado, mas isso não o impede de sentir saudades de muita coisa, com excepção para a comida. Isto porque, e segundo ele, a namorada “cozinha muitíssimo bem comida portuguesa”. E não hesita quando questionado sobre a possibilidade de regressar: “Sim. Espero dar o meu pequeno contributo ao país com o que aprender cá”. E o país ficará agradecido.