Língua vale 17 por cento da economia portuguesa
Estudo avalia impacto da língua nos fluxos migratórios, investimento directo estrangeiro e comércio externo
A língua portuguesa vale 17 por cento do Produto Interno Bruto (PIB). Esta foi uma das conclusões a chegaram os investigadores que durante três anos estudaram o valor económico da língua portuguesa, a pedido do Camões - Instituto da Cooperação e Língua. Os resultados são apresentados no livro Potencial Económico da Língua Portuguesa.
Aproveitando a metodologia aplicada no estudo levado a cabo em 2003 em Espanha, uma equipa coordenada pelo actual reitor do ISCTE, Luís Reto, chegou a esta e outras conclusões sobre o impacto da língua na economia portuguesa.
O estudo permite avaliar, nas palavras de Reto, "o grau de desenvolvimento da economia". Para tal foi necessário identificar as actividades ou produtos nos quais a língua é um componente essencial, tais como comunicação social, telecomunicações, traduções, processamento de dados. E ainda as actividades que fornecem as matérias-primas ao grupo inicial de actividades e as que têm como função distribuir ou comercializar essas acções. Para Rego, os dados compilados ajudam a perceber "o que podia estar a ser mais desenvolvido e não está a ser". Por exemplo, as opções na orientação da política da língua, "que alianças estabelecer e que territórios privilegiar".
Para o reitor do ISCTE há uma conclusão gritante. "Pensar o ensino da língua como uma indústria", nem que seja pelas oportunidades de emprego possíveis, dando como exemplo a "reconversão profissionais do ensino para professores de Português de segunda língua".
O estudo permitiu também compilar um conjunto de dados. O levantamento realizado contabilizou cerca de 250 milhões de "falantes do português", representando por isso 3,7 por cento da população mundial e "aproximadamente 4 por cento da riqueza total".
Mas o estudo serviu também para levantar o véu sobre o impacto da língua nas trocas comerciais, fluxos migratórios e investimento directo em Portugal. Clarifica que a proximidade linguística tem um peso importante no investimento português no estrangeiro e, de forma mais mitigada, no investimento directo estrangeiro em Portugal.
No primeiro caso, esse valor representa 17 por cento do total. Esse investimento vem "principalmente do Brasil e mais recentemente, Angola". O que é relevante se se tiver em conta que a "dimensão relativa destas economias", que valem 3% do PIB mundial. Em relação ao Investimento Directo Estrangeiro, o estudo revela que, embora sendo ainda reduzido o investimento em Portugal feito por países de língua oficial portuguesa está em crescimento. Em 2010, significava quase 6 por cento do total.
Ao nível do comércio externo a língua já não representa uma variável tão forte. O estudo conclui mesmo que o impacto é "quase nulo". Esta é uma das áreas que Luís Reto identifica como um dos "gaps onde se pode actuar": "Devíamos ter mais comércio externo entre os países da lusofonia".
Até porque, como estudos internacionais semelhantes já sugeriram as diferenças linguísticas são barreiras ao comércio, equivalentes a tarifas que podem ir dos 15 aos 22%. Para o reitor do ISCTE, os dados recolhidos no estudo poderiam ser utilizados pelo Governo português para "tentar vender este argumentário a esses países".
Mas é nas migrações que se detecta a língua como factor realmente determinante. "Mais de 50 por cento dos imigrantes que residem em Portugal são oriundos de países de língua oficial portugesa", concluem os investigadores . E para os portugueses que emigram, a língua também é importante, tendo 16 por cento dos portugueses que vivem no exterior escolhido países de língua oficial portuguesa.