O chão que ele ainda pisa

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Salman Rushdie, à chegada a um encontro literário em Bilbau, em 2011: uma fundação iraniana aumentou este mês, uma recompensa de milhões de dólares para que ele seja morto, mas ele já não sente o medo da fatwa imposta pelo ayatollah Khomeini em 1989 RAFA RIVAS/ AFP

Em Joseph Anton, o escritor vai nu. Salman Rushdie, o homem sem fé, conta ao detalhe o quotidiano de blasfemo aos olhos do Islão, num momento em que reclama para si o "direito à blasfémia". A provocação voltou, dizem os extremistas.

Na sua primeira noite em Nova Iorque, Salman Rushdie fez o que lhe pediram. Vestiu fato e gravata, para ele "o mais estranho dos uniformes", e deixou-se levar por um grupo de amigos até ao bar Windows of the World, no cimo do World Trade Center. A década de 70 ia a meio, ele era um publicitário bem sucedido em Londres, a trabalhar para a Ogilvy & Mather, e estava a começar uma viagem pela América com o objectivo de escrever uma série de anúncios para o U.S. Travel Service. A vista a partir daquele bar foi a sua "primeira e inesquecível imagem da cidade", aliada à percepção de que "aqueles sólidos edifícios" "pareciam dizer: estamos aqui para sempre." Rushdie não passava, então, de um aspirante a escritor. Já tinha editado Grimus, título quase ignorado pela crítica, mas mantinha o sonho de poder viver da escrita. A publicação de Os Filhos da Meia Noite, em 1981, com o qual venceu o Man Booker Prize, e de Vergonha, dois anos depois, confirmavam-no como romancista respeitável e deram-lhe a liberdade que outro livro, Os Versículos Satânicos, lhe iria retirar em 1989, transformando-o num dos símbolos do terror islâmico, o primeiro grande símbolo antes do World Trade Center. Salman Rushdie e as Torres Gémeas seriam os alvos mais mediáticos do extremismo religioso, mas naquele momento nem ele nem o mundo sabiam o que isso era. Bastou, no entanto, ver o embate do segundo avião na Torre Sul para se aperceber que tudo o que lhe acontecera até esse momento foi, escreveu ele agora, uma espécie de "prólogo". A experiência do homem a viver dentro da bolha do medo que rebentara alastrando-se à escala universal é contada em Joseph Anton, o livro de memórias lançado mundialmente no passado dia 18 de Setembro com a tal pontaria de um profeta que, no caso, rejeita liminarmente essa condição, e, hoje mais do que nunca, se diz um profundo a-religioso. Mas o facto é que a catarse de Rushdie, 736 páginas na edição portuguesa da D. Quixote reveladoras de um quotidiano marcado pela perseguição islâmica, coincide com o reacender da ira graças a um filme quase amador, Innocence of Muslims, que questiona a vida de Maomé e já vitimou o embaixador dos EUA na Líbia. Coincide ainda com publicação de caricaturas do profeta pelo jornal satírico francês Charlie Hebdo. A conjugação de acontecimentos, ou conspiração cósmica, levou um grupo de extremistas iranianos a relançar a caça ao homem, com a parada a atribuir ao caçador a subir para os 2,5 milhões de euros. O argumento é o de que se Rushdie tivesse sido morto há uns anos ter-se-iam evitado mais ofensas ao Islão. Ou seja, a sua morte seria um exemplo dissuasor. Não foi.

A sentença

Tudo começou com o decreto "de um velho cruel e moribundo", assim se refere o escritor à sentença de morte assinada pelo aiatola Khomeini que o atirava para a categoria de "homem morto". Era 14 de Fevereiro, Dia dos Namorados, também o dia do funeral do amigo Bruce Chatwin, de quem se queria despedir na igreja ortodoxa de Moscow Road. Seria a sua derradeira saída enquanto Salman Rushdie por um tempo que ninguém sabia determinar. "Agora era um novo eu. Era a pessoa que estava no olho da tempestade, já não era o Salman que os amigos conheciam, mas sim o Rushdie que escrevera Versículos Satânicos, um título subtilmente distorcido pela omissão do Os inicial. Os Versículos Satânicos era um romance. Versículos Satânicos eram versículos que eram satânicos, e ele era o seu satânico autor, "Satã Rushdie", a criatura chifruda dos cartazes empunhados por manifestantes pelas ruas de uma cidade distante, o enforcado de língua vermelha saliente dos grosseiros bonecos que eles transportavam. Enforquem o Satã Rushdie. Como era fácil apagar o passado de um homem e construir uma nova versão sua, uma versão avassaladora, contra a qual parecia impossível lutar!" O cenário original de perseguição volta a ser montado, desta vez pelo homem que teve de se esconder debaixo do pano, sair de cena para regressar e dizer como tudo se passou quando o mundo apenas lhe imaginava uma realidade, o ficcionava como ele costumava fazer com os outros, inventava piadas com o seu nome e a sua condição, lhe atribuía lugares, aparições.

Salman Rushdie volta com a memória de um período desencadeado por um livro que muito menos gente leu do que condenou, um livro que ele diz que dificilmente seria publicado hoje. Pelo medo, o tal "medo global" de que se sente na génese.

O duplo

Quando subiu ao World Trade Center, na década de 70, chamava-se Salman Rushdie e era quase um desconhecido. Anos mais tarde, no dia em que dois aviões embateram nas torres, em Nova Iorque, começava a livrar-se da identidade clandestina em que vivera sob a ameaça do regime de Teerão. Ainda se movimentava sob o nome de Joseph Anton, designação que escolheu quando lhe disseram que para viver teria de se inventar. Ele juntou os primeiros nomes de Conrad e de Tchékhov, dois dos seus escritores preferidos, e foi enquanto Joseph Anton que escondeu o Salman Rushdie-ameaça islâmica, a celebridade das primeiras páginas dos jornais, sobrevivendo no subterrâneo a que a fatwa o sujeitou. Nessa clandestinidade conseguiu continuar a escrever e a publicar: Haroun e o Mar de Histórias (1990); Pátrias Imaginárias (1992); Oriente, Ocidente (1994); O Último Suspiro do Mouro (1995) e O Chão que ela Pisa (1999). Prolífico, apesar da insegurança, da vida nómada, de não saber nunca qual seria a próxima paragem. Fúria, romance sobre um ex-professor de Cambridge que vai perdendo o controle sobre si, trai as suas convicções intelectuais e foge para Nova Iorque onde vai viver a sua culpa na mais cosmopolita das sociedades, uma cidade no seu apogeu, habitada por revolucionários das mais diferentes culturas, é publicado na Europa e prepara-se para sair nos Estados Unidos. Tudo normal dentro das circunstâncias do absurdo em que se sentia viver. O desconcerto estaria, no entanto, para breve, e seria a História a provocar o arrepio. "A data oficial de publicação de Fúria nos Estados Unidos era 11 de Setembro de 2001", lembra no seu recentíssimo livro de memórias, reconstituindo o sentimento que então tomou conta dele. "Nessa data um romance projectado como um retrato satírico ultracontemporâneo de Nova Iorque transformou-se, devido aos acontecimentos, num romance histórico sobre uma cidade que já não era aquela sobre a qual tinha escrito, cuja época dourada terminara da maneira mais abruptamente aterradora; um romance que quando lido por aqueles que se lembravam da cidade como fora, inspirava uma emoção que estava no planos do autor: nostalgia. Na banda desenhada Doonesbury, de Garry Trudeau, uma das personagens dizia, tristemente: "Sabes, tenho mesmo saudades do 10 de setembro." Compreendeu que fora isso que acontecera ao seu romance. Os acontecimentos de 11 de Setembro tinham-no transformado num retrato do dia anterior. A fortaleza de ouro cheia de joias era agora apenas o sonho de uma vida anterior, perdida." O tempo que passara desde a fatwa do Ayatola Khomeini diluíra o perigo. Nos Estados Unidos mais do que em Inglaterra, Salman já conseguia ser Salman, apesar do risco que os seguranças lhe lembravam existir desde Londres. E foi na sua identidade, a do escritor em vésperas de uma tournée literária para apresentar o seu novo livro, que foi acordado na manhã de 11 de Setembro.

"Acabava de acordar quando um jornalista da rádio lhe ligou para o quarto de hotel. Ele tinha aceitado falar na estação de rádio antes de apanhar o voo para Minneapolis, mas ainda era muito cedo para isso. "Desculpe", disse a voz ao seu ouvido, "mas vou ter de cancelar. Por causa do que aconteceu em Nova Iorque." Ele não sabia do que o jornalista estava a falar. Quando ligou a televisão viu o segundo avião. O relato continua, sempre na terceira pessoa, Rushdie espectador de si mesmo. "Não conseguiu sentar-se. Não lhe parecia bem sentar-se. Ficou de pé diante do televisor, com o comando na mão e o número cinquenta mil não parava de repetir-se no seu cérebro. Trabalhavam cinquenta mil pessoas nas Torres Gémeas. Não podia imaginar o número de mortos." E claro que pensou na primeira vez em que pisou Nova Iorque, na visita ao Windows on the World. Lembrou-se também de Paul Auster lhe falar da travessia no arame de Philippe Petit entre as duas torres. Mas sobretudo limitou-se a ficar ali especado a ver os edifícios arderem e depois, com atroz incredulidade, exclamou, ao mesmo tempo que milhares de outras pessoas em todo o mundo, quando a Torre Sul caiu: "Não está lá! Já não está lá!""

Autocensura

O primeiro atentado terrorista, do qual se sentiu alvo, falhou o objectivo. As torres caíram, mas Salman Rushdie viveu para contar uma história de sobrevivência ao mal. O mal que amedronta, mata, cala e provoca a autocensura, lança a culpa nessa ténue fronteira entre a vida e a arte em que se sentiu viver. Onde ainda vive. Mas escorregou nessa linha de desequilíbrio e quase cedeu. Ná véspera do Natal de 1990 publicou um artigo no britânico The Times onde afirmava ter-se convertido ao Islão. Justificou-se mais tarde e agora sublinha que o seu estado mental era o de um zombie e que nunca se sentiu tão miserável como com essa traição a si mesmo. Foi nessa condição que ouviu dizer queremos reivindicá-lo para nós. Para isso ele só teria de demonstrar "boa vontade.

Sem ouvir amigos, assinou por baixo, até escutar as acusações de quem estivera sempre do seu lado. "Sabia o que estava a dizer de si para si: És um mentiroso, era o que dizia, és um mentiroso, um cobarde e um tolo", escreve nestas memórias sobre esse conflito interior que o despertaria para o outro sentido da sua missão, além de sobreviver: alertar os líderes mundiais para o ajudarem no seu direito de ser incómodo, não limitando isso ao seu livro. O espectro era alargado: alertar para a realidade que estava a nascer: a era do medo e da autocensura que a fatwa viera instituir.

"Sobrevivera todo este tempo porque podia pôr a mão no coração e defender todas as palavras que tinha dito ou escrito. Escrevera seriamente e com integridade e tudo o que dissera sobre isso era a verdade. Agora tinha arrancado a língua da própria boca, negara a si mesmo a capacidade de utilizar a linguagem e as ideias que lhe eram naturais. Até ao momento fora acusado de um crime contra as crenças dos outros. Agora acusava-se a si próprio, e considerava-se culpado de ter cometido um crime contra si próprio."

Onde estava o homem que no dia em que fora confrontado com a ameaça respondera: "Quem me dera ter escrito um livro mais crítico"? Não se reconhecia, mas acabava de saber onde podia levar o medo que o mundo aprendeu a conhecer de forma concreta a partir de 11 de Setembro, o tal medo que o leva agora a afirmar que dificilmente um livro como Os Versículos Satânicos seria hoje publicado. Não por medo do autor, sublinha ele, mas dos próprios editores que têm muitos outros medos a gerir, sobretudo os próprios, e tal autocensura causada pelo receio da reacção extremista. Será? Manuel Alberto Valente, agora na Porto Editora, editor na D. Quixote quando Os Versículos Satânicos foram publicados em Portugal, pouco antes da fatwa, admite que sim, que essa censura pudesse acontecer, possa acontecer, e vai buscar a mesma argumentação de Rushdie. "É muito difícil pôr-me na pele de um editor inglês ou indiano, com ameaças muito mais evidentes do que cá. Aí, percebo o receio do Islão que se tornou muito palpável depois do 11 de Setembro. Antes, esse medo era ténue. Mas sendo um editor português, julgo que publicaria o livro sem problemas." Na altura, recorda que foi tudo mais ou menos pacífico tendo em conta o que se passava fora do país. O editor norueguês e dois tradutores, um italiano e outro japonês, foram assassinados. Por cá nada de mais a assinalar. João Carlos Alvim, agora na Estampa e então também editor na D. Quixote, lembra, contudo, que houve a ameaça de uma manifestação de muçulmanos a passar junto das instalações da editora, cuja sede era na Avenida Duque de Loulé. Cecília Andrade estava no departamento de comunicação e recorda que acompanhou mais de perto as movimentações à volta do "caso" Rushdie. "Foi preciso gerir toda a informação que chegava com muito cuidado", conta. Nelson de Matos, o então proprietário da D. Quixote, teve direito a segurança à porta de casa e, como recorda João Rodrigues, actualmente na Sextante mas em 1989 assistente editorial na D. Quixote, foi Matos quem chamou a si os assuntos ligados à edição de "Os Versículos Satânicos", uma excepção para um homem que tinha outras responsabilidades, nomeadamente a edição de autores nacionais.

Para sublinhar ainda o relativo sossego com que tudo se passou em Portugal, Alberto Valente fala de um congresso de editores em Espanha para o qual foi convidado. "Havia um enorme aparato, autocarros, segurança policial, e nós elogiávamos a organização grandiosa, até sabermos que tudo se devia ao facto de estarem ali dois ou três editores do Rushdie vindos de países onde a ameaça era levada muito a sério."

Todos estes editores continuam a editar e todos, sem excepção, falam de um medo maior, global, vindo do pós-11 de Setembro. Nada, no entanto, que os faça pensar que não publicariam, hoje, Os Versículos Satânicos. Ou talvez fosse publicado com outras cautelas. Continua proibido em vários países, incluído a Índia natal do autor, natural de Bombaim, onde nasceu em 1947, filho de uma família muçulmana que nunca praticou a religião. Nem essa nem outra. Convidado para um festival literário em Jaipur, já no início deste ano, já com Joseph Anton agendado para Setembro, Rushdie foi à Índia, mas no limite aconselharam-no a não aparecer. O romance continuava maldito e, com ele, o seu autor. Perguntaram-lhe se alguma vez pensou recuar, voltar atrás na história, não fazer um livro assim. Ele respondeu que "a autocensura é a morte da arte", que preferia não voltar a escrever a ceder.

A primeira pergunta

Passaram 23 anos sobre a publicação de Os Versículos Satânicos. Cecília Andrade continua com Rushdie na D. Quixote. É o nome dela que surge a assinar a edição deste Joseph Anton. Há medo? "Confesso que quando vi o meu nome, ali, escrito, houve uma ligeira tensão que depois logo se dissipou", afirma, antes de citar o próprio autor acerca da necessidade de combater a autocensura. Percebe que está longe do alvo, mas sabe também que a ameaça persiste e voltou, de algum modo, a ser acicatada com este livro. "O Islão pode voltar a ver aqui uma provocação."

E viu. Com a agravante de estar a ser servida em simultâneo com caricaturas e um filme cujo gosto se pode questionar. "É lixo, mas bani-lo só lhe confere glamour", declarou o escritor a um jornalista do inglês The Guardian um dia antes da publicação de Joseph Anton. No dia seguinte, o jornal espanhol El País publicava uma entrevista com o chefe de redacção do Charlie Hebdo. Na véspera, o jornal francês aparecera com novas caricaturas do profeta Maomé. Porquê reacender a polémica?, era a questão, após os protestos violentos de Setembro de 2005 - quase sempre Setembro - na sequência da publicação de caricaturas do profeta no dinamarquês Jyllands-Posten, e de, já em 2011, o mesmo Charlie Hebdo ter apresentado na capa desenhos de Maomé. "A autocensura é o princípio do totalitarismo", justificava Gérard Biard, acrescentando que criticar uma religião não é ser racista" e negando ter instigado à cólera gratuita de forma gratuita com o único objectivo de vender. O facto é que a edição de 70 mil exemplares esgotou. Representar o profeta é blasfémia diz o Islão. Associar o profeta ao demónio, tornando-o seu emissário, como acontece em Os Versículos Santânicos, é outra blasfémia, continua a dizer o Islão. Rushdie volta a entrar em cena neste contexto. Ele reclama o "direito à blasfémia" na tradição dos iluministas franceses que a usaram para se libertarem do poder da Igreja Católica. Nada contra o Islão, sublinha, e vinca ainda que a sua batalha é contra o extremismo que combate pelo medo a liberdade de expressão. Quanto à recentíssima decisão do Chanel 4 não passar um documentário sobre o Islão por considerá-lo susceptível de ofender no actual contexto, Rushdie declarou que "o refrão" é sempre qualquer coisa como "os muçulmanos podem ficar zangados e devemos respeitá-los". Ora, diz ele, esta é nada mais do que a base da autocensura. "Quando as pessoas optam pela decisão mais cobarde, isso não é respeito, é medo." Falta a questão de princípio. Ou a de regresso, até àquele dia 14 de Fevereiro de 1989, quando Rushdie declarou, na CBS, que se soubesse teria escrito um livro ainda mais crítico. Hoje, sabendo do medo o que não sabia, mantém a intenção? Ou seja, reescreveria Os Versículos Satânicos de forma mais dura para o Islão? "Sem dúvida", respondeu na entrevista ao The Guardian, confessando o orgulho que teve em si mesmo por ter feito essa declaração em profundo estado de choque, mas com o cuidado de sublinhar que o romance Os Versículos Satânicos não é - ou não é apenas - sobre o Islão. Trata da história original da religião, da qual o Islão está próxima. É sobre a natureza da revelação". É ele quem usa a palavra "profecia" para falar do conjunto de desconcertos que têm marcado a sua vida desde o dia em que pisou pela primeira vez a América e as Torres Gémeas até o terror saído das mesmas torres se tornar um sentimento colectivo e já não apenas o pânico pessoal de alguém que pode morrer às mãos de extremistas religiosos por ter escrito um livro que o Islão considerou ofensivo. A partir de 11 de Setembro de 2001 o mundo era capaz de avaliar o medo em que Rushdie, sentenciando de morte por blasfémia, vivera quase 13 anos. Começava a era do que Rushdie chama "relativismo-moral", para ele o gémeo mau" de uma das maiores conquistas da modernidade: o multiculturalismo, o convívio da diferença num mesmo espaço, num mesmo tempo.

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